domingo, 12 de abril de 2009

A velha crise dos seis milhões

É inequívoco o declínio aparente do nosso Benfica dos velhos tempos e parece que nesses velhos tempos permanecerá o sucesso do maior clube português.

Após a derrota decisiva no jogo do dia 14 de Março de 2009 para a Liga Sagres 08/09 em pleno estádio da Luz, coberto com cinquenta mil adeptos e sócios, o Benfica aparece, no final dos noventa minutos, mais uma vez afastado da possibilidade do título de campeão nacional português, juntando mais um marco histórico aos 5-1 na Grécia da mesma época ou aos vinte e cinco pontos de distância do primeiro classificado na época 07/08 a que o treinador tanto se refere, de forma a desculpar as suas terríveis actuações em campo, oscilando com os brilharetes que realiza nas conferências de imprensa antes dos jogos. É aqui que entra Quique Flores, um intelectual do futebol, verdadeiro mestre nas conferências que tomam lugar antes dos jogos e verdadeira comédia nas conferências após os jogos.

Sobrinho de Lola Flores (artista conceituada em Espanha, terra dos meus sonhos), o treinador do Benfica vem, no final dos 90 minutos do jogo, pintar um revoltante e transtornante quadro animador do Benfica–V.Guimarães, fazendo alusão a uma «suposta» primeira parte fantástica que não fora quase alvo de correcções aos jogadores no intervalo. “Fizemos um esforço grande e um bom jogo na primeira parte. Foi dos jogos em que tivemos menos correcções a fazer ao intervalo. A equipa teve dinâmica, pressão, velocidade, conseguiu oportunidades, cantos, faltas e só não houve golo”!

No sentido de complementar as afirmações de Quique Flores no final do jogo, trago à memória dos leitores a capa do jornal desportivo “A Bola”: “Quique já não vê nem ouve”. E é aqui que surge o episódio fatídico da substituição de Cardozo (um dos avançados da equipa, ponta de lança) pelo Nuno Gomes, nem mais nem menos, e de forma a ganhar maior “mobilidade no ataque”! Quique Flores respondeu: “Assobios no momento em que tirei o Cardozo? A pergunta é errada. Os aplausos foram para a entrada de Nuno Gomes e não para a saída do Cardozo. Perguntaram-me como explicava a saída de Cardozo numa altura em que o público estava do seu lado. Ora eu também tenho ouvidos e sei que o público não estava com Cardozo no momento em que saiu”. É aqui que Quique Flores não compreende que os assobios do público presente, aquando da substituição, não eram destinados a Cardozo, mas eram sim um reflexo, um gesto de ódio e dor pela substituição que se estava a operar. Acrescentaria, por isso, à capa do jornal: Não vê, não ouve e não sabe! Note-se ainda que, para além dos factos, Quique Flores, a perder desde a segunda metade da segunda parte e com possíveis substituições ainda por fazer, consegue o feito incrível de terminar o jogo com apenas e repito, apenas um ponta de lança em campo, nada mais, nada menos que o entrado Nuno Gomes. Para ajudar a compreender a situação, Quique Flores, corrido o minuto 90, jogava com dois médios defensivos e um ponta de lança (para qualquer meio entendido do futebol, claramente uma leitura táctica destrutiva e impeditiva de virar um resultado negativo) que lutavam incansavelmente e em vão, atrás do prejuízo que traria uma derrota no estádio da Luz e que afastava, mais uma vez, o Benfica do título de campeão nacional 08/09. Caso para perguntar: Porquê tirar Cardozo? Porque não entrar Mantorras? Para quê dois médios a defender? Isto é lutar pelo jogo e pelo título?

É verdade que não nos podemos cingir a um jogo ou uma substituição num quadro de um campeonato nacional de futebol com trinta jornadas, mas a verdade mais revoltante e cruel para os benfiquistas está no triste contexto competitivo em que o clube do nosso coração embateu nos últimos anos, arrastado por administrações corruptas, jogadores com qualidade mas sem rendimento, técnicos completamente “entupidos”, decisões e caprichos absurdos durante os jogos e, segundo se fala ultimamente, métodos de treino duvidosos, incluindo eventuais cargas físicas elevadas nos treinos que antecedem os jogos. Repare-se, por exemplo, nos números competitivos do Benfica nestes últimos quatro anos: cinco treinadores (Koeman, Santos, Chalana, Camacho e Flores) e um título, uma tal Taça Carlsberg (entre campeonatos nacionais, taças de Portugal, taça da liga, competições da Uefa ou a Champions League). Um título num período de quatro anos, quatro anos, aliado a um verdadeiro desgosto pelo facto do último título de campeão nacional, pelas mãos de Giovanni Trappatoni, ter ficado muito aquém do desejado para uma equipa do prestígio do Benfica, num ano em que o F.C.Porto teve três treinadores, num ano marcado por muitos penáltis duvidosos marcados a favor do Benfica e ainda, um ano em que o Benfica fez menos uma deslocação a campo alheio! Mesmo assim, 1 título em 20 possíveis!

Fará então sentido perguntar e pedir o que José António Camacho pedia aos jogadores do Benfica: Para quando um Benfica á Futebol Clube do Porto?


Jorge Manuel Honório

Sem comentários: