domingo, 12 de abril de 2009

Dois homens simples

Imaginemos dois homens. Ambos têm origens relativamente humildes, fizeram uma escolaridade mínima, e foram cedo trabalhar.

O primeiro trabalhou bastante, até conseguir um rendimento de classe média. Pediu um empréstimo, e comprou uma casa e um carro, que foi pagando ao longo dos anos. Teve filhos, que tem a estudar, embora com grande sacrifício. As férias de Verão são feitas em casa pequena arrendada todos os anos; não vai à neve, nem come muitas vezes em restaurante. Não tem muitas dívidas, e paga os seus impostos.

O segundo optou por um início de carreira mais aventuroso. Conseguiu reunir algum dinheiro, em investimentos de alto risco. Como até certo ponto dinheiro atrai dinheiro, foi ficando cada vez mais rico. Chegou a multimilionário, sempre com investimentos de risco. Gastou bastante dinheiro, e o futuro nunca foi uma preocupação.

Há uma crise.

O primeiro homem vê as poucas prestações que tinha em crédito aumentar, e faz uns ajustes à vida quotidiana para as poder pagar. Perder a casa não é uma opção. O segundo perde milhões, mas não parece querer alterar muito o seu estilo de vida. O primeiro homem chama-se Manuel, António, José. No momento de crise, o Estado pega no dinheiro deste contribuinte, entregue em cheque branco através dos mais diversos impostos, e entrega ao segundo homem, para o salvar da falência. Nada faz pelo primeiro, o cidadão consciencioso. Pelo contrário, castiga-o.

O segundo homem chama-se Joe Berardo. E eu pergunto-me onde está a justiça deste Estado igualitário, para quem o trabalho de uma vida, o mérito e o esforço de cada cidadão representam apenas uma percentagem de um bolo discricionário. A arbitrariedade, combinada com o igualitarismo, é uma perigosa ameaça à justiça desta democracia.

Ana Margarida Craveiro -
Delito de Opinião

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