quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Paul Anthony Samuelson

Nascido em 1915, no Estado do Indiana, na cidade de Gary, Paul Anthony Samuelson foi um dos economistas mais brilhantes de sempre a que o mundo alguma vez pôde assistir. Professor e Investigador, as suas grandes paixões, Samuelson formou, ao longo da sua vasta carreira, diferentes protagonistas, mais tarde vencedores de prémios nobel. Por exemplo, Robert Solow, Paul Krugman ou Joseph Stiglitz.


“In this age of specialization, I sometimes think of myself as the last 'generalist' in economics with interests that range from mathematical economics down to current financial journalism. My real interests are research and teaching”.

O seu estudo incidia principalmente nos caminhos para o bem-estar económico, a programação linear, a teoria Keynesiana, a dinâmica económica associada ao comércio internacional e a condição de maximização nos mercados. Samuelson defendia, acima de tudo, que a matemática era essencial no caminho da percepção dos fundamentos e teorias económicas e, na sua primeira grande publicação em 1947, Foundations of Economic Analysis, o economista defende e suporta devidamente essa sua visão.

O economista ganhou reconhecimento internacional e realizou grandes e significativos contributos para a teoria económica moderna. Como disse um jornalista recentemente, a doutrina Samuelson revela-se até mais importante nos dias de hoje que à data em que foi anunciada. O seu livro Economics: an introductory analysis publicado em 1948 tornou-se o maior bestseller de ciências económicas de sempre e ainda hoje é ferramenta essencial, indispensável a qualquer universidade da respectiva categoria. Os conteúdos do livro foram sendo adaptados ao longo dos anos, ajustados à evolução das novas condicionantes económicas. A primeira edição residia nos princípios de restauração do emprego no período do pós I guerra mundial. As edições seguintes prosseguiam as novas teorias da inflação e os meios fiscais e monetários de combate e controlo deste fenómeno.

No seu último livro publicado, Linear Programming and Economic Analysis, fundamentos matemáticos são aplicados em problemas práticos de comércio internacional, marketing, produção industrial e planeamento. Ficou então provado que a afectação daqueles recursos poderia, a partir de agora, ser analisada de acordo com os modelos matemáticos desenvolvidos por Samuelson.

Samuelson alertava para que as democracias modernas estivessem atentas ao fenómeno da inflação já que normalmente ela atingiria os maiores níveis de preocupação nestas economias de mercado. O grande desafio da economia, cito, estará na capacidade de controlar a diferente evolução e mutação dos aspectos ligados à inflação. Numa entrevista em 1960, o economista deu ases ao nascimento de um novo tipo de inflação, aquela a que chamava “cost-push”. Em oposição à doutrina da inflação tradicional na qual o aumento do poder de compra faz disparar os preços e os salários, a inflação “cost-push” de Samuelson surge quando os níveis de emprego são elevados e que, segundo ele, potenciam a alavancagem dos preços no mercado. Destaca que muitas vezes essa subida criará a ilusão de que estamos a ir longe de mais e a incorrer em sérios problemas conjunturais, mesmo não estando a taxa de emprego em níveis satisfatórios. Indica, no entanto, que o caminho para a prosperidade ligada ao pleno emprego e crescimento sustentável não deverá ser abandonada, devendo, isso sim, serem criados os instrumentos necessários ao controlo deste problema no longo prazo.

Para o economista, uma taxa de desemprego na América acima dos 6% é factor de preocupação mas considera, contudo, muito difícil que a mesma se situe abaixo dos 4%. Uma taxa de 3,5% permitiria uma nova época de sucesso e bem-estar económico, não satisfazendo na perfeição, todavia, os agentes por causa do efeito inverso da inflação “cost-push”.

Num relatório consultivo ao presidente Kennedy em 1961, Samuelson propunha o desenvolvimento de políticas essenciais no plano financeiro dirigidas à economia americana, medidas ancoradas no apoio pelo lado da despesa pública, suportadas em programas educacionais rigorosos, alta prioridade à requalificação imobiliária e obras públicas e projectos de desenvolvimento e aproveitamento de novos recursos: inovação! Para estimular o mercado da habitação, Samuelson propôs a redução das taxas hipotecárias, descontos em hipoteca, seguros comparticipados e a extensão dos períodos de amortização máxima. Ao nível da política monetária, Samuelson recomendou um maior enfoque nas condições de curto prazo, reduzindo taxas de longo prazo e desenvolvendo acções fundamentais em prol do equilíbrio imediato da balança de pagamentos.

Samuelson integrou o M.I.T. em 1940 como professor assistente e passados 4 anos da sua entrada, o reconhecimento pedagógico e científico desenvolvido pelo professor permitiu-lhe ascender ao estatuto de auxiliar. Foi professor de Relações Económicas Internacionais em part-time na Fletcher School of Law and Diplomacy e consultor no National Resources Planning Board nos tempos da II Guerra Mundial. Algumas das funções mais importantes por ele exercidas:

* Membro do United States Treasury, do departamento de assuntos orçamentais e do departamento para os assuntos económicos.

* Investigador na President’s National Goals Comission

* Presidente da Associação Económica Internacional em 1965

Aqui fica prestada a minha homenagem a um dos maiores (senão o maior) guru da economia mundial. Deixo-vos com uma frase mítica e eternamente conhecida do Samuelson e que se deve aplicar a todos nós que lutamos pelo futuro dos nossos povos e pelo reconhecimento necessário das grandes figuras que entre nós figuraram e aquelas que ainda perduram:


“The challenge is great but the prognosis is cheerful”.

Faleceu a 13 de Dezembro de 2009

Jorge Manuel Honório

sábado, 5 de dezembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A sucata portuguesa


Tristes os dias que vivemos e o local que habitamos. Deprimentes as notícias que recebemos de políticos, banqueiros, empresários, altas figuras de Estado todos os dias. Demente a situação empresarial em Portugal e as condições económicas em que vivemos, logo esta, a que possibilita os tão desejados grandes salários, subsídios, pensões e excelentes modelos de vida e bem estar social…mas não cá.

Cá é a “sujeira” do dia-a-dia, típica de um país cujo sonho foi a aproximação à Europa mas que se contenta com o Norte de África, aquela “nojeira” que tem sustento na corrupção, no tráfico de influências, na subordinação. Um meio empresarial frágil, incompetitivo e selvagem. Economicamente inoperante e socialmente injusto.

Um aparelho judicial vergonhoso, atabalhoado, temeroso, corrompível e ineficiente. Caracterizado por magistrados e advogados alheios ao bom funcionamento de um dos pilares da democracia, um pilar essencial da economia de mercado, um obstáculo à “importação” de empresas para a criação de emprego no nosso país. Sujeitos que se debandeiam em protagonismo e ligações profissionais aos mais diversos sectores do Estado e da comunicação social, onde as ligações perigosas e destruidoras de um funcionamento pragmático assombra os empresários que, cá, «pretendiam» exercer os seus negócios.

A educação miserável, inexigente, inclusiva e sem resultados finais. Basta-nos comparar o nível de formação de um estudante de leste com o 12º ano e um dos nossos formandos. Um universitário espanhol com um universitário português. As escolas públicas colocam, em oposição, bons e maus alunos, alunos que querem aprender com alunos que “partem” a carteira ou insultam o professor, crianças felizes em casa mas temerosas na escola, absorvidas por um ambiente de autêntico facilitismo e “guerra escolar”. Um sistema inoperante, onde os manuais não têm qualidade e onde o ministério tem excessiva participação, exames onde os maus alunos conseguem o mesmo aproveitamento que os bons alunos. Um país onde a disciplina de Educação Física entra para a média final escolar!

A fiscalidade. Monstra, complexíssima e em constante mutação, onde não se conhece o real estado das empresas, apenas alguns rendimentos declarados. Empresas em insolvência que continuam a pagar o PEC e outros impostos ridículos, que pretendem não combater mas apenas ocultar parte da evasão fiscal que todos sabemos e, no meu caso, comprovamos isso mesmo. Uma fiscalidade tal, que hoje nem um licenciado e mesmo um mestre consegue compreender ou, no mínimo, conhecer, pelo que muitos empresários, especialmente aqueles a que eu chamo “da 4ª classe”, têm dificuldades redobradas em conhecer este regime fiscal actual, por ser diferente do de há uno e incomparável com o de há 10 anos.

Por vezes sonho com uma espécie de 24 ou 26 de Abril para que, pelo menos, se corram com estes políticos insensíveis às necessidades e carências da nação, que lideram para proveito próprio e como carreira de uma vida. Um quadro semelhante ao da década de 20, quando a I república foi “expulsa” pelo povo, dando lugar ao reinado de Oliveira Salazar. Tanto foi assim que, nesse tempo, Mário Soares escreveu um livro “Le Portugal Bailloné” em que descrevia um panorama negro sobre a sociedade portuguesa e que coincide na perfeição com a situação que vivemos hoje. Nesse tempo, o povo foi obrigado a recorrer a Salazar porque os Partidos não deslumbravam soluções imediatas, um pouco à semelhança do que vai acontecendo hoje.

Um país recluso de um lugar onde cada vez menos se quer e se pretende estar, onde não se consegue viver ao nível dos europeus, onde não se conseguirá (e cada vez menos) envelhecer com qualidade e onde a inserção no meio societário é cada vez mais díficil, com as desigualdades em crescendo e com o “esfarrelar” da classe média. Um país onde mais de 50 mil pessoas entre as idades dos 40 e 50 já nem se dignam a procurar emprego e se sujeitam à rejeição de uma vida em condições, num país dito europeu e merecedor de TGV’s e novos aeroportos. Um Brasil na Europa, um riquismo próprio de um qualquer miserável país africano e uma mentalidade sul-americana de mais sol e menos trabalho.

É a triste realidade dos nosso dias, uma situação que não vivíamos desde meados de 1910 e que se agravará durante, pelo menos, mais 10 anos nesta situação. Sem solução à vista, quer no lado do Estado onde governam 2 partidos incapazes, quer do lado da economia onde existe cada vez menos incentivo a vir para cá e cada vez maior distância para a principal concorrência: os países de Leste. O Estado endividar-se-á, cada vez mais, até ao ponto em que não terá mais capacidade para tanto subsídio e pensão, em que elas cairão para 100 e 200 euros e em que a miséria imperará quando, na Europa, nos cortarem o acesso ao capital estrangeiro (muitos já o prevêem no prazo de 5/6 anos). O português, na maioria, uns por ainda terem a 4ª classe e outros vítimas da “educação política” que hoje vigora nas escolas, não compreende e não é capaz de fazer este diagnóstico, não possui discernimento e conhecimento para prever o que acontecerá no nosso Portugal daqui a meia década (se os projectos de obras públicas anunciadas avançarem). Não peçam, a quem se afirma sério e ambicioso, para ficar e lutar pela melhoria do nosso país porque, na realidade e sem um regime diferente, os problemas não serão resolvidos e a população afundará no desemprego e nos baixos salários e pensões, situação que a crise internacional antecipou no tempo e ao qual as grandes obras darão a machadada final.

O amor à pátria já foi chão que deu uva. Hoje o amor é à globalização que tem ainda, como maior obstáculo, a cultura linguística que não se compreende, todavia, como fácil mas que é e deve ser susceptível de uma luta mais justa, sempre com a motivação de que é um objectivo alcançável, ao contrário do objectivo Portugal que não se vislumbra realizável.


Jorge Manuel Honório


Ps: Há muitos meses atrás e aliás num texto meu que está publicado aqui no blog, referia eu que a única via de compensação que se nos oferecia para responder a tal desorçamentação seria a via do aumento dos impostos e explico, inclusive, o porquê da minha visão na altura. Parece que hoje assistimos à confirmação daquilo que era a minha expectativa. Se eu já o sabia, será que os políticos na campanha para as legislativas também não o sabiam? Isto confirma o que refiro neste texto.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O (E)estado da democracia


Um excelente extracto de uma conversa entre Miguel Sousa Tavares e uma amiga estrangeira num regresso a Portugal, enviado pelo meu amigo André Caeiro.


Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta autoestrada sem ninguém!

sábado, 7 de novembro de 2009

As contas do TGV: um comboio para implodir?


I - Economia e política da decisão


“É um empreendimento enorme e desproporcionado para a dimensão da economia portuguesa.”

“Os financiamentos comunitários para o período 2007-2013 para este tipo de projectos ascendem a €3,9 mil milhões, dos quais €383,38 milhões (10%!) foram atribuídos a Portugal. Devemos ter presente, para avaliar o significado destes números, que a população portuguesa representa 2,1% da população da UE e 1,4% do seu PIB e que é em torno destes valores que, a custo, se conseguem negociar as alocações dos diversos fundos comunitários destinados ao País.”

“Os países do Leste europeu, nossos concorrentes e parceiros, sabiamente, não embarcaram neste comboio.”

“O TGV é um projecto economicamente errado e socialmente injusto. Economicamente não é sustentável sem o concurso de enormes verbas do Estado, tanto para a construção como para a operação, e terá efeitos reduzidos ou negativos sobre o crescimento. Socialmente, os seus utilizadores, altamente subsidiados pelo Estado, não serão a grande massa da população mais necessitada nem das regiões interiores mais pobres e em decadência. Os custos e os benefícios do TGV são mal conhecidos. A propaganda da indústria e os interesses políticos imediatos retiram transparência às contas. Tirando a reprodução dos dados oficiais e alguns pronunciamentos críticos avulsos, em geral mal fundamentados, pouco se encontra que permita uma visão objectiva do projecto da alta velocidade em Portugal. O TGV é fruto de objectivos políticos bem precisos e localizados (caso de Espanha e China) e de estratégias industriais de certo capitalismo de Estado (Japão e França). “

“A alta velocidade é uma tecnologia altamente complexa e cara, que não resiste à prova do mercado, não sendo sustentável sem o profundo patrocínio e suporte dos Estados. É um encargo insuportável para países como Portugal, que lutam desesperadamente por um modelo económico viável. As apostas anteriores nas obras públicas não resultaram. Agora não será diferente. O que há de novo senão diferenças de protagonistas? Estamos nós a beneficiar do formidável programa de construção de auto - estradas dos últimos 20 anos? Que tem o TGV de especial que permitirá fazer diferente? Insiste-se no mesmo erro e os resultados serão replicados. Pressionados pela pulsão integradora de Espanha, pelas indústrias francesa e alemã e pela curta ideia de "modernidade" dos poderes públicos, o TGV pode efectivamente vir a construir-se, inclusivamente com as 5 linhas visionadas. Tudo dependerá da duração da crise internacional; se esta durar o TGV irá avançando. Se a crise se resolver, a pressão sobre o Orçamento do Estado será tão forte que o TGV parará onde estiver.”

“Os mesmos países que agora nos impulsionam a construir a alta velocidade serão os mesmos que, entretanto, com a suas contas arrumadas pelas suas pujantes economias, nos vão exigir talvez um novo corte nas pensões para poder suportar os custos das linhas então já existentes.”

“Procurarei mostrar nos próximos artigos, com base no que de mais avançado se conhece da análise económica da alta velocidade, que nenhuma linha de TGV se deveria construir em Portugal, agora ou no futuro, e que nunca tal foi no passado uma opção razoável. “

1 O presente artigo é o primeiro de uma série de 3 dedicada à análise económica da alta velocidade em Portugal. O 2º artigo avaliará os custos e o 3º os benefícios do projecto.
2 Em 2010, a Espanha ocupará o lugar do Japão como o país com a mais extensa rede de alta velocidade.

Avelino de Jesus - Director do ISG (Instituto Superior de Gestão)

domingo, 1 de novembro de 2009

A Farsa


O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.

Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários “camaradas” que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.

O regime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto – a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem – suponho – não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.

Vasco Pulido Valente

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Metallica: 1981 - 2009




The band Metallica was formed on October 15 1981 by James Hetfield and Lars Ulrich. Starting at the very beginning on February 10 1962 Cliff Burton was born. On November 18 of the same year Kirk Hammett was born. On March 4 1963 Jason Newstead was born. On August 3 James Hetfield was born and on December 26 Lars Ulrich was born. These are the main members in the band Metallica.

Metallica signed to this record label it was their first contracted record label. Only days later on May 10 Metallica started work on their first album later to be titled Kill Em' All (after the people who wouldn't let the album be called Metal Up Your Ass with the picture of a hand holding a knife coming out of a toilet bowl on the cover). the recording of Kill Em' All was finished on May 27.
Fundos de Investimento no Futebol

Para começar, será indispensável apresentar uma definição acerca do tema: um fundo de investimento trata-se de um agrupamento de diferentes interesses (accionistas do clube, investidores, bancos e outras sociedades), gerido por especialistas da área financeira, aconselhados e consultados por olheiros de futebol independentes que, em parceria com instituições financeiras, pretendem seduzir apostadores/investidores de risco interessados em rendibilidades elevadas a médio/longo prazo (passes de jogadores).

Recentemente, o Benfica entrou num fundo de investimento de jogadores de forma a superar, aparentemente, dificuldades de tesouraria para o cumprimento de responsabilidades contratuais e dívidas a vencer este ano. O “Benfica Stars Fund” é gerido por uma sociedade participada pelo BES.

Segundo apurámos, a criação do “Benfica Stars Fund” entrará com um capital social de 40 milhões de euros mais uma realização 22 de milhões referentes à alienação de participações de jogadores a reverterem para os investidores do fundo (onde participa a tão falada Ongoing de José Eduardo Moniz, público opositor de Luís Filipe Vieira). È sabido, também, que o encaixe dos 22 milhões de euros coincidiu com a maturidade para a liquidação da dívida à Euroàrea, curiosamente no valor de 22 milhões de euros.

Principais restrições

· O fundo não pode deter mais de 60% dos direitos económicos de cada atleta e a Benfica SAD tem de deter um mínimo de 10% por participação.
· Os jogadores que integrem o fundo terão entre 16 e 25 anos e o contrato com o clube não poderá ser inferior a 3 anos.

Vantagens

· Mais investimento em jogadores, já que, para contratar um craque, torna-se muito mais acessível ao clube fazê-lo com a ajuda da participação do fundo na aquisição de parte do passe.
· Partilha do risco financeiro.
· Elevado potencial de rentabilização do atleta.

Desvantagens
· Perda de mais-valias quando um jogador participado é vendido.
· O valor de venda do atleta não reverte a 100% para o clube.
· Perigo do “Third-Party Investment”, termo utilizado em Inglaterra e que consiste na pressão exercida pelo fundo para que jogadores sejam vendidos, havendo interferência clara na negociação entre os 2 clubes. A situação é agravada quando o clube vendedor está em más condições financeiras e a ameaça da extinção do fundo se torna uma realidade. (Ex. Transferência do Tévez para o West Ham United, proveniente do clube brasileiro Corinthians)

A experiência vivida em Portugal por Porto, Sporting e Boavista no chamado “First Portuguese Football Players Fund” não deixou grandes saudades para estes clubes, já que muitas receitas de médio prazo acabaram por “escapar”. No caso deste fundo, os interesses não incidiam sobre a participação de um ou outro jogador, mas sim na carteira/plantel do clube.

No caso do FCP (nos anos de Mourinho), os rendimentos do fundo ultrapassaram os 30% anuais, desde a venda do Ricardo Carvalho, à venda do Deco! Já no caso do Boavista destacou-se, basicamente, a transferência de Bosingwa para o FCP e para o Sporting, 3 jogadores: Quaresma, Ronaldo e Hugo Viana. Nesta altura falava-se, inclusive, do desejo do fundo numa participação semelhante no Benfica, já que, segundo responsáveis do fundo, o clube era “muito atractivo” e atrairia “bastantes investidores”.

O acordo terminou quando os clubes adquiriram a totalidade dos passes dos jogadores que eram detidos pelos investidores, provavelmente em detrimento dos enormes prejuízos causados pela partilha de grandes estrelas como Ronaldo, Quaresma ou Deco.


Jorge Manuel Honório

terça-feira, 13 de outubro de 2009

New Kind of Madoff


O autor da maior fraude financeira de sempre envolveu-se numa rixa com outro prisioneiro por causa das bolsas e, pelos vistos, saiu vitorioso.

Condenado a 150 anos de prisão, Madoff envolveu-se numa discussão acesa com outro prisioneiro sobre o actual estado dos mercados accionistas, revela o "New York Post". Depois da troca de palavras iniciou-se o confronto directo físico que envolveu empurrões.

"Acho que o Bernie estava fora de si. Tornou-se agressivo e o outro prisioneiro ficou surpreendido com o contra-ataque de Madoff", revelou um outro prisioneiro citado pelo jornal.

A rixa aconteceu perto do campo de futebol da prisão com uma "assistência" de 20 prisioneiros e numa altura em que os guardas prisionais não estavam a observar. Um prisioneiro citado pelo jornal revela que os "lutadores" tiveram sorte de não terem sido apanhados pelos guardas, caso contrário teriam sido colocados na solitária. Segundo o "New York Post", um dia depois da rixa os dois "lutadores" já estavam amigos.
In Diário Económico

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Défice à portuguesa

Contam-se dois dias, apenas, para os eleitores portugueses escolherem o novo primeiro-ministro de Portugal e que será eleito na sequência destas duas semanas de campanha que considero passarem ao lado dos verdadeiros problemas do país e a roçar a falta de respeito pelo estado de miséria em que nos encontramos e que é substancialmente agravado quando olhamos para o futuro dos nossos indicadores económicos e fiscais. Um desses indicadores é a tão temida carga fiscal (impostos)!

Espanta-me, neste país, que políticos (alguns profissionais) que se dizem capazes e com todas as condições para nos governar, tenham andado a zaragatear uns com os outros acerca da retoma da crise mundial que nos atravessou este ano. Dois pontos:

1. Nenhum dos partidos, onde existe a forte possibilidade de governar em coligação, se referiu à nossa crise estrutural, a nossa crise “mais antiga”.

2. A demagogia e o engano no debate acerca da redução da carga fiscal nestes próximos anos, o que constituiu um verdadeiro absurdo, próprio de políticas radicais de esquerda e de indivíduos que, conscientes das suas palavras, mentem descaradamente em campanha eleitoral.

É profundamente inconcebível que alguns andem a prometer baixar impostos tendo em conta o estado da dívida pública e o défice financeiro que atravessamos neste período, e não só! É que daqui a poucos meses teremos a UE à porta a mandar-nos “apertar o cinto” (reduzir o défice). É óbvio que para promover o desenvolvimento económico, o país tem de reduzir a complexidade e volume fiscal que, neste momento, é aplicado em Portugal. No entanto, perante uma situação de descalabro das contas públicas, apenas se oferece ao Estado três soluções de resposta às restrições impostas pela UE: aumento da receita, redução da despesa ou endividamento (embora mais condicionado e com juros maiores derivados do nível de risco que Portugal já representa para as instituições financeiras mundiais e ainda aos condicionamentos do acesso ao crédito nestes tempos de retracção).

Aumento da receita. No nosso país não estão reunidas as condições necessárias para um aumento da receita por via do desenvolvimento económico, já que os factores geográficos, a burocracia e a falta de flexibilidade laboral continuam a comprometer o desenvolvimento empresarial e a competitividade nacional. A incapacidade estrutural permanece. Neste sentido, o único veículo de aumento da receita passa pelo incremento dos impostos.

Redução da despesa. Em Portugal, mais de 80% das despesas do Estado são despesas sociais (salários, pensões, subsídios de doença e desemprego, etc), o que constituiu, portanto, um caminho bastante difícil de envergar pelos diversos governos, já que compromete a paz social e os tão indispensáveis votos!

Endividamento. A grande paixão portuguesa! O endividamento do Estado em % do PIB supera já os 100%, havendo, deste modo, grande necessidade de contenção neste ponto já que pagamos cada vez mais juros e estamos cada vez mais degradados economicamente.
Consequentemente, as avaliações de rating são cada vez piores para nós e o crédito encontra-se numa grande fase de retracção, ameaçado pela recente crise financeira.

Torna-se fundamental a mentalização de que parece inevitável um aumento de impostos (que já estão ao nível dos praticados no mercado alemão, a maior economia da Europa) ou, pelo menos, a manutenção daquilo que já está, pois um desagravamento parece quase impossível tendo em conta que teremos de reduzir o défice (receita-despesa) para os níveis exigidos pela UE e essa redução tem os seus caminhos óbvios.

A minha recomendação é que se tome coragem e sentido de Estado e se promova um pacto nacional de redução de salários na administração pública, aliado à redução de alguns benefícios sociais não tão decisivos como é o caso, por exemplo, do rendimento mínimo de inserção. Foi esta a solução optada pelo governo da Hungria e que permitiu, sem aumento de impostos, reduzir a o défice de 9 p.p. para os 3%, apesar de ser muito pouco popular. É uma medida que promove a economia, baixando os custos, e resolve grande parte do excesso de despesa ou a falta de receita associada ao défice financeiro.

Jorge Manuel Honório

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Factores do crescimento da economia portuguesa


No último artigo apresentei algumas notas acerca do que nos reservam os próximos anos se não forem radicalmente alteradas as políticas públicas. Recordo que as projecções da OCDE apontam para, nos próximos 10 anos, um crescimento médio do produto potencial de 0,7% - o mais baixo da zona.

A questão que se põe é a de saber quais os factores do crescimento e colocar no terreno técnico o debate ainda muito tributário da pura especulação ideológica; de forma simplista a Esquerda exige mais investimento público em infra-estruturas e educação e a Direita pede menos impostos e mais privatização.
O indicador relevante é a produtividade (valor acrescentado sobre o número de trabalhadores) e não o custo unitário do trabalho, indicador frequentemente utilizado em análises de curto prazo e de significado limitado e enganador, muitas vezes conducente a propostas de contenção salarial. Só a produtividade serve de referência para a medição da prosperidade, indicando o valor criado passível de distribuição pelos detentores dos factores de produção.Embora não haja consenso sobre os factores da produtividade e sua importância relativa, haverá que partir do conhecimento do que melhor se investiga sobre o assunto. Parece-me, assim, que devem ser seriamente ponderados e debatidos os seguintes factores.
Mercado interno e exportação. Devido à situação geográfica, o País está dependente da criação de um mercado interno de importância superior à esperada pela sua dimensão e a integração na UE. O País necessita de aumentar o poder de compra da população e de alargar as áreas de actuação da iniciativa privada, através da retracção do Estado em amplas áreas onde ainda é preponderante, entre as quais a educação deve ser sublinhada pelos substanciais ganhos de produtividade que podem ser obtidos.
Portugal exporta 40% da produção industrial contra 90% da Irlanda, 70% da Dinamarca e Áustria, 55% da Suécia, 50% da Finlândia. Estes valores reflectem a situação geográfica do País. A pressão e as políticas selectivas em favor do sector exportador que não tenham em conta este dado contribuirão para gerar distorções e situações artificiais desbarataras de recursos.
Políticas gerais não selectivas. As políticas selectivas, de sectores, países, são factores de distorções na alocação dos recursos e de ineficiências. Cerca de 2/3 dos ganhos de produtividade deve-se à eficiência (produtividade total dos factores); não importa apenas a acumulação de factores mas sobretudo a sua afectação eficiente. A falta de concorrência, a corrupção e as políticas selectivas têm aqui um papel negativo.
PME. A baixa produtividade deve-se em grande parte às diferenças de produtividade no interior do País, devido ao enorme peso das PME. A produtividade mais elevada é apanágio da grande empresa.Uma estrutura empresarial equilibrada, geradora e eficaz contém uma composição adequada de grandes, médias e pequenas empresas. No País, a presença de grandes empresas é muito pequena. O apoio especial às PME pode travar o seu crescimento. O importante é a mobilidade empresarial, propiciando o crescimento das pequenas empresas e o desafio às posições ocupadas pelos grandes incumbentes.Educação. O factor capital humano tem uma dimensão qualitativa importante, representada pelas habilitações da população. A duração da escolaridade obrigatória e a proporção da população com Ensino Superior, não são os indicadores que melhor explicam o crescimento da produtividade. O conhecimento efectivo da matemática e escolaridade generalizada nos grupos etários logo desde os 3 anos e até aos 15 anos são os indicadores educativos que melhor explicam o crescimento.
O indicador de eficiência das despesas de educação é o mais baixo da OCDE. A educação é mais ineficiente área de intervenção do Estado. Mesmo do ponto de vista puramente social, a ineficiência é evidente. Estudos recentes confirmam que a mobilidade social intergeracional no país é a pior da OCDE e não tem melhorado. A maior escolaridade não resultou em mobilidade social e empresarial. Os velhos mecanismos da reprodução social e económica tardam em ser quebrados.
O alargamento da escolaridade para os 12 anos e 18 de idade, ao dispersar recursos para uma área menos eficaz é um novo erro que se perfila. A melhoria do ensino até ao 9º anos - e aqui entre os 3 e os 10 anos - onde se estruturam as habilidades é a melhor política de educação para o crescimento e também a mais adequada para a redução das desigualdades sociais.
Inovação. Os indicadores da inovação estão estreitamente associados aos ganhos de produtividade. A participação dos detentores do grau de doutor no sistema produtivo quer como empresários quer como quadros superiores são um importante factor de inovação da estrutura empresarial. Apesar de um substancial recente crescimento o corpo de doutores no país está virado para si próprio e para o sistema de ensino: 85% dos doutores está no ensino contra 33% nos EUA e 13% na Alemanha.
Impostos e despesa pública. A despesa pública é o resultado da criação de riqueza e não o inverso. Não tem sido possível comprovar a influência negativa ou positiva das despesas públicas sobre o crescimento. Também não há evidência causal comprovada entre impostos em geral e crescimento, mas a estrutura tributária não é indiferente: os impostos que incidem sobre o rendimento são mais penalizadores do os impostos sobre o consumo. Mais importante que o nível da despesa e dos impostos é a distorção na estrutura das receitas e a ineficiência da despesa.
Licenciamentos e regulação. A regulação restritiva e os obstáculos ao licenciamento das actividades económicas são importante factor de crescimento e de produtividade. Portugal é um país altamente restritivo e moroso na área dos licenciamentos, tendo 127 países melhor posicionados. Estudos recentes, para os países da OCDE, mostram que as infra-estruturas físicas são responsáveis apenas por ¼ das demoras, devendo-se as restantes as aspectos burocráticos. Cada dia adicional de demora reduz o comércio internacional em 1,3%. Por sua vez foi possível estabelecer uma equivalência entre 1 dia de demora e 70 km de distância dos mercados.
Na regulação do mercado de produtos o país é também fortemente restritivo sobretudo na área do controle do Estado sobre as empresas onde ocupa a 3ª pior posição da OCDE.


Avelino de Jesus
Director do ISG - Instituto Superior de Gestão

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pós-crise em Portugal

Num ano inédito para a política portuguesa e em que os portugueses são chamados por 3 vezes às urnas (europeias, autárquicas e legislativas), ainda mais em ano de crise financeira mundial, crise como não se via há mais de 70 anos, surgem as habituais cenas teatrais e politiquices que já nos habituaram desde há uns anos para cá neste país. Hoje e ainda sob os efeitos da crise mas, muito provavelmente, porque já se aproximam as eleições legislativas, começou-se a debater as soluções pós-crise. Enquanto, por exemplo, o PS teima em que o PSD apresente propostas, outros defendem a aposta na contenção do défice, ou que se deve reduzir impostos e outros ainda que devíamos extingui-los mesmo. Em Portugal ouve-se tudo e mais alguma coisa das mais altas personalidades. Todos choram a pobreza e o desemprego mas, no fim, aquando da proposta de soluções, quase todos “atiram” ao lado. Alguns, inclusive, ainda têm o desplante de defender medidas absurdas como aumentar o salário mínimo, por exemplo. Só mesmo quem não tem uma noção apropriada do país onde vivemos.

Com a situação calamitosa que enfrentaremos em 2010, com o endividamento superior a 100% da riqueza nacional, com um Estado social à beira da ruptura, com o galopante aumento do número de desempregados e sem perspectivas de empregabilidade para toda esta gente e com o governo a continuar sem saber qual o principal problema de Portugal, importa desmistificar, de uma vez por todas, que o problema principal do nosso país tem um nome: economia.

É com a economia que conseguimos pagar salários, pensões, subsídios e, portanto, num país com os níveis de analfabetismo ainda existentes, com falta de ensino de rigor e com a ausência de pessoal suficientemente qualificado e preparado para o mercado de trabalho, torna-se decisivo fazer uma aposta para os próximos anos. Importa centrar atenções no funcionamento da economia de forma a recrear empregos e a enriquecer o Estado. Neste sentido, proporia 5 medidas á priori para o renascer do nosso tecido produtivo e para atrair investimento estrangeiro destinado á criação de riqueza e postos de trabalho no nosso país:

1. Contenção do endividamento do país ao exterior. Para os leitores terem a noção, o Estado em 1998 estava endividado em 10% do PIB (receitas do estado). Em 2009, o Estado apresenta um nível de endividamento de mais de 100% do PIB. Este diferencial superior aos 100 p.p. indica-nos que andamos a viver de empréstimos do exterior e, portanto, como dependemos deles, a factura do país em juros para com o exterior pesará cada vez mais no orçamento de Estado.

2. Especializar a educação (ensino técnico de qualidade para os que possuem maiores dificuldades ou que não querem estudar e ensino secundário rigoroso para os que aspiram a “doutores”), acabando com a ilusão da chamada “escola inclusiva”. A escola inclusiva ou não será, a meu ver, uma solução até um aluno reprovar 2 a 3 anos. A partir desse momento seria obrigatório, pelo menos e a meu ver, a frequência de uma formação técnica de 2 ou 3 anos.

3. Incentivos fiscais e laborais a projectos com elevado potencial exportador e que também permitissem a substituição de importações. Precisamos de criar riqueza interna, responder cá dentro e com produção nacional àquilo que os portugueses desejam consumir e, desta forma, equilibrar a balança comercial.

4. Empreendedorismo como unidade curricular obrigatória no ensino superior para, pelo menos, cursos de gestão, economia e mesmo finanças.

5. Inventariar as condições oferecidas pelos novos países da UE e, a partir daí, compreender o que deveremos proporcionar de modo a concorrer com esses países na atracção de investimento privado.

Ao fim ao cabo, defendo um Estado liberal que, através destes e muitos outros meios, crie riqueza aos cidadãos do país e não o contrário como muita boa gente defende, isto é, que se deva tentar enriquecer os cidadãos à custa de subsídios, salários, pensões, como proclamam as heróicas políticas de esquerda. A meu ver, só daquela forma e com aquela visão, o Estado conseguirá angariar fundos suficientes para desenvolver a sua actividade com primazia e eficiência, reduzir verbas provenientes de impostos (os impostos que se praticam num país com a dimensão de Portugal é um verdadeiro absurdo quando equiparado, por exemplo, à carga fiscal alemã), prosperar a economia e desenvolver o país. Um país com tamanha carga fiscal e tão fraca economia não aguenta um tecido social como o actual e, no médio/longo prazo, romperá financeiramente e será o fim inevitável do apelidado Estado Social.

Partindo daqui concluo: terá o meu voto quem apresentar um programa às legislativas neste sentido, oferecendo prioridade à economia e assumindo a educação como motor de arranque a longo prazo. Um Estado interventivo ao nível do marketing e promoção do país mas liberal a longo prazo, especialmente no que diz respeito à intervenção social e redução da administração pública. Caso contrário e não sendo estas as prioridades definidas, o quadro seguinte indica-nos a dura realidade que teremos pela frente:

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Rúbrica Semanal: "O Livre Directo"

Passivos: prejudicial ou essencial?

Passivo: para muitos um simples número que se coloca numa folha de contabilidade e que reflecte todas as dívidas representativas da instituição e, para outros, mais alheios ao sistema, um número que representa grande choque, especialmente no mundo do futebol, sem se ter em conta a realidade empresarial e estratégica dos diferentes clubes.

Venho, assim, na minha rubrica semanal, tentar contribuir para uma maior compreensão dos amantes do desporto rei para esta realidade que muitas vezes ouvimos nos media. Um passivo elevado não deve estar associado ao “fim” de um clube como, por vezes, se parece ouvir. Antes de tudo, importa clarificar os diferentes contextos da dívida para diferentes sociedades. Por exemplo, em muitas situações, é preferível um passivo de 500 milhões para um determinado clube que um passivo de 50 milhões para outro. Porquê? Ora a resposta é óbvia: tudo tem de estar adaptado á realidade de uma sociedade. É normal que uma empresa que “venda” muito mais tenha um passivo muito maior. É uma situação que decorre das actividades de exploração da organização. A questão aqui coloca-se na capacidade dela rentabilizar o suficiente para cobrir esse passivo e na possibilidade de o mesmo contribuir para o crescimento, a todos os níveis, da organização que terá de aproveitar esses fluxos de curto prazo para adoptar estratégias e decisões acertadas. Só se vende comprando e pagando e aplicando a esses gastos uma margem de lucro. É o ciclo normal da realidade empresarial. É, portanto, falta de senso dizer-se como, por vezes se houve, que o passivo de um clube é tal e o de outro é muito maior ou menor. Como por exemplo, muitas vezes comparar o passivo do Real Madrid com o passivo de um dos grandes clubes portugueses. Não é sério!

O passivo é prejudicial em termos da solvabilidade do clube (peso do passivo sobre o capital da empresa) e agrava as finanças se, principalmente, o clube obtiver quebras no volume de negócios. Um clube que se financie bastante mas que alcance sempre os objectivos desejados e a rentabilidade financeira que daí provém é um clube cada vez mais viável. O problema é quando o clube se financia e não consegue “rentabilizar” esse financiamento e onde terá, então, que pagar juros com capital que não rentabilizou para além daquele que já tinha aquando da contracção do empréstimo. Tomemos como exemplo o Real Madrid. É certo que é um clube cujo passivo, especialmente as dívidas a instituições financeiras, disparou “brutalmente” com as últimas contratações mas, no entanto, é um clube que factura bastante e mesmo quando os resultados desportivos são agravados, o clube tem sempre receitas fantásticas de bilheteira, marca, direitos televisivos, merchandising. Neste sentido, se é um clube cujo incumprimento não está em causa (praticamente), é sempre aliciante para as instituições bancárias concederem financiamentos a clubes nestas condições e, sendo certo que beneficiarão (quase de certeza) da rentabilidade associada ao empréstimo concedido, é igualmente certo que a posição credora do clube para o banco não se alterará para pior e, deste modo, não faz sentido subir o rating do clube. Rating que passo a explicar de seguida.

O rating consiste numa classificação que reflecte a capacidade da empresa devedora cumprir com os seus pagamentos á instituição credora. Neste sentido, quanto maior o peso do passivo nas contas de um clube, maior será o rating definido pelas instituições de crédito sobre o mesmo (claro que esta análise complementa não apenas a situação credora, mas também outros factores como o nível de facturação ou a estrutura de capital próprio). Consequentemente, como é maior a probabilidade de não cumprimento das suas obrigações, as instituições credoras aplicarão spreads (margem de lucro) maiores, obrigando a que o clube pague mais juros por cada empréstimo contraído, para compensar o risco em que elas ocorrem ao concederem o financiamento. É bom lembrar que os empréstimos são essenciais para contratações e outros investimentos, pois é dinheiro que os clubes não têm nas suas contas a curto prazo e, portanto, terão sempre de se financiar.

Neste sentido, importa clarificar que os tão falados passivos no futebol podem ser classificados como prejudiciais para as contas e para o rating do clube, especialmente se o clube tiver uma estrutura de custos pesada e escassos resultados em cada exercício. É verdade! Mas são “essenciais” no sentido de que os clubes necessitam de investir para poderem concretizar, acima de tudo, os objectivos desportivos e esse investimento tem obrigatoriamente de ser financiado porque são fluxos libertos que os clubes não dispõem no imediato. Investir, pois é isso que garante a viabilidade e acreditem que o custo de capital da não concretização dos objectivos sai bem mais caro do que qualquer financiamento que garanta a prossecução dos objectivos e consequente rentabilidade que permitirá ao clube pagar a tempo e horas.

Jorge Manuel Honório

sábado, 11 de julho de 2009

Angola: uma nova oportunidade

Crise mundial instalada, abre-se o debate sobre as melhores opções de investimento nestas fases e como gerar riqueza sustentável para públicos e privados. Neste sentido, parece inevitável falarmos do papel da economia angolana e da sua consolidação como economia real em crescimento, em tempos de recessão no século XXI.
Importa salientar, primeiro que tudo, que a economia angolana não escapa também á crise mundial e ao enfraquecer das relações comerciais mundiais pois vivemos hoje no mundo da globalização e da liberalização das relações comerciais, pessoas, bens e capitais. O próprio governo angolano viu-se obrigado, recentemente, a rever o orçamento de estado de 2009.

Para os menos entendidos em matérias de gestão e economia, passarei por explicar muito sucintamente alguns motivos que justificam o actual momento de forte recessão económica e, ao invés, a economia angolana continuar em crescendo. Em economia trata-se de crescimento económico, o fenómeno em que o crescimento dos sectores de actividade de um país (produção, exportação, investimento….) ou seja o chamado PIB – Produto Interno Bruto – é superior á taxa de crescimento populacional desse mesmo país.

Deste modo, é normal que o crescimento do PIB em economias fracas e pouco desenvolvidas tenha maior margem para progredir que o PIB numa economia robusta, empreendedora e em fase de maturidade e que, evidentemente, não apresenta as mesmas necessidades de indústria ou investimento estrutural. Estas são economias que apelam mais ao empreendedorismo ligado à inovação e a estratégias de marketing e posicionamento. Esta análise permite-nos então, compreender melhor a janela de oportunidades que Angola representa nos dias de hoje em que o regresso da economia da depressão parece estar aí.

Segundo Aguinaldo Jaime – Comissão de Reestruturação da Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP) – apesar de a crise internacional ter provocado uma desaceleração da procura mundial do petróleo, Angola continua a recolher enormes manifestações de investimento privado. Para os empresários que investem no mercado angolano, os sectores mais atractivos continuam a ser o sector primário (agricultura particularmente) e o sector petrolífero. No entanto, segundo o jurista, outros sectores de actividade ao nível do comércio e da prestação de serviços apresentam um crescimento significativo nos últimos anos, representando actualmente 42% do PIB.
O objectivo do governo angolano passa agora por uma maior diversificação da economia, ainda muito dependente do sector do petróleo, o que se revela trágico especialmente nesta altura em que os preços desta matéria caem há já várias sessões consecutivas.

Para tal, é preciso acrescentar que, do outro lado, o governo deverá criar todas as condições de paz, reforço da democracia, educação e saúde, combate à corrupção, simplificação da burocracia e criação de redes infra-estruturais de modo a contribuir para atrair investimento estrangeiro que potencie as condições de vida e as capacidades de aprendizagem á escala mundial do povo angolano.

Jorge Manuel Honório

sábado, 4 de julho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

" O que importa é ter uma teoria "

A gestão dos activos e recursos humanos é, possivelmente, o maior desafio ao crescimento e consolidação de uma empresa no mercado global em que vivemos hoje. Como referira o CEO de uma grande empresa portuguesa, a grande guerra a disputar no século XXI será a guerra pelo e para o conhecimento. Neste sentido e à luz das exigências que hoje são colocadas às organizações em todo o mundo, torna-se cada vez mais real a necessidade de conjugar uma integração global com uma responsabilização local e o potenciar da inovação e aprendizagem à escala mundial.

As competências ao dispor de uma organização são, naturalmente, o grande veículo de crescimento e aproveitamento das oportunidades que todos os dias surgem no panorama competitivo mundial e é neste campo, portanto, que a empresa deve centrar as suas decisões estratégicas e focalizar as suas actividades da cadeia de valor.

A motivação sobressai como um dos valores mais essenciais á adopção de modelos e estratégias baseadas em competências. Uma empresa tem de “trabalhar” pela motivação dos seus activos de modo a que daí resulte uma vontade de empenho e dedicação cada vez maior e que isso se traduza em lucro e na concretização dos objectivos operacionais e estratégicos. Maior motivação gerará maior conhecimento, capacidade e comportamento individual que, por seu turno, entrarão no espírito e cultura organizacional do grupo.

Na fronteira da motivação e da capacidade competitiva do indivíduo e do seu grupo de trabalho, temos a avaliação do desempenho. É aqui que reside a quantificação das qualidades e defeitos de uma organização, bem como o nível de competências dos colaboradores suportados pelas diferentes teorias motivacionais nas funções individuais.

Para empresas que actuem em diferentes negócios e mercados, sou da opinião de que é recomendável uma avaliação de desempenho por competências, na medida em que, basicamente, as grandes necessidades de inovação e empreendedorismo local não residem na necessidade de uma especialização baseada na tarefa, mas sim na capacidade de explorar novas oportunidades e, portanto, no enfoque em factores de criatividade e empreendedorismo pessoal. Nas sociedades modernas, a gestão eficiente dos modelos de competências e avaliação de desempenho terão de se traduzir em sistemas de recompensas enquadrados (sempre) na estratégia global da empresa. O sistema de recompensas, independentemente da sua extrincicidade (apesar da sua componente salarial sempre obrigatória) ou intrincicidade, deverá premiar o desempenho do indivíduo tendo em conta não apenas o trabalho desenvolvido dentro da sua função, mas também os níveis de responsabilidade hierárquicos que ocupa com eficiência e produção.

Jorge Manuel Honório

domingo, 12 de abril de 2009

Personalidades




Henrique Medina Carreira (Bissau, 14 de Janeiro de 1931) é um fiscalista e político, filho de António Barbosa Carreira, historiador, e de Cármen Medina Carreira.

Carreira Profissional


Henrique Medina Carreira tirou um bacharel em Engenharia Mecânica e, mais tarde, licenciou-se em Ciências Pedagógicas (

1954) e em Direito (1962) na Universidade de Lisboa. Frequentou ainda o curso de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão, que não concluiu. Dedicou-se à advocacia, à consultoria em empresas e à docência universitária, a última das quais exercida no Instituto Superior de Gestão (ISG), no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e no Instituto Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (IESFF).


A par da sua carreira profissional, desempenhou outras funções como as de membro do Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, membro do Conselho Fiscal da Fundação Oriente, vice-presidente do Conselho Nacional do Plano ou presidente da Comissão de Reforma de Tributação do Património.

Carreira Política


No plano político, exerceu o cargo de Sub-secretário de Estado do Orçamento durante o
VI Governo Provisório (1975-1976), o qual deixou de exercer para assumir, logo de seguida, as funções de Ministro das Finanças do I Governo Constitucional (1976-1978) liderado por Mário Soares. Mais tarde abandonou o Partido Socialista, assumindo, dizem, uma maior aproximação ao PPD-PSD e, em 2006, apoiou publicamente a candidatura de Aníbal Cavaco Silva à Presidência da República.


Crítico, ao seu estilo!


Nos últimos anos, Medina Carreira tem sido um grande crítico do papel desempenhado pelos principais partidos políticos em Portugal, das finanças públicas portuguesas relativamente ao endividamento e á despesa pública e relativamente à actual carga fiscal portuguesa, como consequência da conhecida falta de produtividade da nossa economia.


Defensor da implementação de um sistema presidencialista, a título transitório, em Portugal, o fiscalista e ex-ministro das Finanças tem, também, criticado a situação actual da educação, da justiça e a inexistência de políticas eficazes contra a corrupção e o excesso de burocracia. Por exemplo, numa entrevista ao jornalista José Gomes Ferreira na Sic Notícias, Medina Carreira, abordando o tema referente à dívida externa portuguesa, referia que nos últimos 10 anos a dívida portuguesa tem vindo a aumentar 48 milhões de euros, diariamente! Dizia então Medina Carreira: “quando acabarmos este programa devemos mais 2 milhões de euros”, apelidando ainda a situação de “uma torneira”.


Henrique Medina Carreira

Para quem me conhece, não admira que Medina Carreira seja a primeira personalidade a que dou relevo no meu blog, na medida em que é e foi para mim o principal impulsionador do meu interesse pelos estudos económicos e curiosidades políticas. Medina Carreira representa a minha maior fonte de motivação e capacidade crítica na área da política, da economia e no diagnóstico da situação actual do país. O fiscalista é talvez o principal realista que alguma vez iremos ouvir na comunicação social e, graças a esse realismo, torna-se banal que muitos olhem para esta personalidade como um pessimista, um chato ou um “popularuxo”. Contudo, para além de Medina Carreira (e tal como ele refere) não depender de nenhum aparelho político-partidário, ele não se limita apenas a criticar, mas também sugere propostas de solução para ajudar à resolução da nossa crise estrutural em Portugal em que, em cada 3 anos desde o 25 de Abril de 1974, dois são a crescer a 1% ou menos, refere.


Refiro então Medina Carreira como a minha primeira personalidade de topo, num momento em que é absolutamente urgente tomarmos conhecimento do destino do nosso país com este sistema político e porque pretendo, com este destaque, dar relevo aos elementos presentes no discurso do fiscalista e servir de via de transporte e divulgação para uma extensa camada populacional activa que possui, no voto, o possível elemento de revolta e mudança política e, quem sabe, social.


Para que a colectividade tome conhecimento da situação do nosso país e assim se possa realizar o correcto diagnóstico da situação actual da economia portuguesa, recomendo a leitura do livro “O dever da verdade” de 2006 em que, Medina Carreira em entrevista a Ricardo Costa da Sic, descreve-nos ao pormenor a situação das diferentes áreas de actividade em Portugal, apresenta alguns contextos históricos, refere aquilo que para ele deviam ser as acções a adoptar pelos sucessivos governos e onde recorre, para os fins, a elementos gráficos e estatísticas oficiais de entidades competentes e reconhecidas internacionalmente. O livro tem o prefácio da Dra. Manuela Ferreira Leite e chegou, recentemente, após uma entrevista ao jornalista Mário Crespo na Sic, à 7ª edição em menos de um mês, tendo na contra-capa a seguinte descrição:

Sei que para muitas pessoas este não é um livro fácil. Não porque tenha um texto denso ou gráficos impenetráveis. Mas pela simples razão de que transporta uma mensagem realista. E, muitas vezes, o realismo não é especialmente agradável. Quando falamos de Portugal isso parece mesmo uma verdade absoluta…Quando conversava ou lia as respostas de Medina Carreira tinha a sensação de que só faltava ouvir uma sirene a anunciar um raid da aviação inimiga. Não é fácil deparar com tantos factos negativos de chofre…cada vez que tentei o contraditório (ou seja, sempre) ou que apresentei índices e dados mais favoráveis – porque também os há -, não consegui de deixar de lhe dar razão…Porque quem não aceita a realidade raramente consegue encarar o futuro…penso que este livro é um bom ponto de partida para se perceber que país somos, em que Estado estamos e para onde caminhamos. O optimismo não basta.


Ricardo CostaJornalista

Algumas citações

  • “Vocês, comunicação social o que dão é esta conversa de inflação menos 1 ponto, o crescimento 0,1 em vez de 0,6. Se as pessoas soubessem o que é 0,1 de crescimento, é um café por português de 3 em 3 dias... Portanto andamos a discutir um café de 3 em 3 dias”
  • “Ainda há dias eu estava num supermercado, numa bicha para pagar, e estava uma rapariga de umbigo de fora com umas garrafas e em vez de multiplicar 6x3=18, contava com os dedos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9... isto é ensino, é falta de ensino.”
  • “Eu por mim estou convencido que não se faz nada para pôr a justiça a funcionar porque a classe política tem medo de ser apanhada na rede da justiça. É uma desconfiança que eu tenho. E então, quanto mais complicado aquilo for…”
  • “Nós em Portugal sabemos é resolver o problema dos outros: a guerra do Iraque, do Afeganistão, do presidente americano que não devia de ter sido o Bush, mas não sabemos resolver os nossos. As nossas grandes personalidades em Portugal falam de tudo no estrangeiro: criticam, promovem, conferenciam, discutem, mas se lhes perguntar o que é que se devia fazer em Portugal não sabem. Somos um país de papagaios sabe”
  • Receber os prisioneiros de Guantanamo? “Isso fica bem e a alimentação não deve ser cara...”
  • “Há dias circulava na Internet uma notícia sobre um atleta olímpico que andou numa "nova oportunidade" uns meses, fez o 12ºano e agora vai seguir medicina. Quer dizer, o homem andava aí distraído, disseram meta-se nas novas oportunidades e agora entra em medicina. Bem, quando ele acabar o curso já eu não devo cá andar felizmente”

Algumas publicações

  • Manual de Direito Empresarial (1972)
  • O Actual Sistema Fiscal Português – Síntese (1983)
  • A Fiscalidade e o Mercado Português de Capitais (1983)
  • A Situação Fiscal em Portugal (1984)
  • As Políticas Sociais em Portugal (1996)
  • Reformar Portugal – 17 Estratégias de Mudança (em co-autoria, 2002)

Ministros do I Governo Constitucional da República Portuguesa


ALFREDO NOBRE DA COSTA - Indústria e Tecnologia
ANTÓNIO BARRETO - Agricultura e Pescas
ANTÓNIO DE ALMEIDA SANTOS - Justiça
ANTÓNIO MALDONADO GONELHA - Trabalho
ANTÓNIO SOUSA GOMES - Plano e Coordenação Económica
ARMANDO BACELAR - Assuntos Sociais
CARLOS MOTA PINTO - Comércio e Turismo
EDUARDO PEREIRA - Habitação, Urbanismo e Construção
EMÍLIO RUI VILAR - Transportes e Comunicações
HENRIQUE DE BARROS - Ministro de Estado
HENRIQUE MEDINA CARREIRA - Finanças
JOÃO ALMEIDA PINA - Obras Públicas
JORGE CAMPINOS - Ministro sem Pasta
MANUEL DA COSTA BRÁS - Administração Interna
MÁRIO FIRMINO MIGUEL - Defesa Nacional
MÁRIO SOARES - Negócios Estrangeiros
MÁRIO SOTTOMAYOR CARDIA - Educação e Investigação Científica

Titanic


A cena é sobejamente conhecida para merecer ser descrita. Na confusão de uma ameaça catastrófica e perante a possibilidade de uma mortandade sem igual, o comandante do Titanic manda tocar a orquestra.

Para atenuar a angústia? Só para fazer qualquer coisa? Para desnortear os mais incautos dando-lhes uma reconfortante aproximação à morte? Porque pensa que ainda se pode evitar a morte, não fazendo por isso qualquer sentido soar um alarme despropositado? Para ocupar uns quantos que não terão lugar nos botes salva-vidas?

Mas o pavoroso caricato de ver um grupo de gente a tocar uma valsa perante a morte iminente é demasiado.

As taxas de juro têm descido, dizem. No entanto, isso não é absolutamente verdade. Nos últimos 12 meses observámos um movimento a dois tempos. Depois de vários meses em que as taxas de juro da dívida pública para todos os prazos de vencimento subiram permanentemente em virtude de uma persistente actuação do Banco Central Europeu, a partir de Julho de 2008 assistiu-se ao início da sua descida. Essa descida foi acentuadamente marcada para as taxas de juro de curto prazo, mas também as de longo prazo observaram quedas sensíveis, apresentando a curva da estrutura temporal das taxas de juro um valor mínimo em Dezembro de 2008.

No entanto, apesar do custo da dívida pública ter continuado a descer nos prazos curtos passando para 1,06% em meados de Março, começou a subir para prazos longos e num ápice subiu para 4,66% a 10 anos e 4,88% a 30 anos. Por contrapartida, em meados de Março, a Alemanha financiava-se a 3,11% para o prazo de 10 anos e a 3,98% a 30 anos. Isto é, o ‘spread' entre o custo da dívida pública portuguesa e a alemã a 10 anos é de 1,55%. Mas para prazos mais curtos aquele ‘spread' manteve-se elevado, apresentando-se a 1,42% para o prazo de 5 anos. Esta situação tem implicações importantes.

Primeiro, o nosso Orçamento do Estado é relativamente mais agravado do que seria se o nosso risco de crédito da república fosse menor. Gastamos mais receita para pagar mais juros para o mesmo financiamento, restando-nos menos para investimento ou despesa social.

Segundo, este efeito contamina o custo do capital das empresas e também elas passaram a pagar mais juros pelo mesmo financiamento. Assim, há menos lucros para reter em crescimento orgânico, ou para distribuição a accionistas.

Terceiro, os projectos ficam menos atractivos quando desenvolvidos por portugueses. Deixamos de lançar projectos em Portugal que podem ser lançados em países com menores taxas de juro. Por exemplo, um projecto público com vida de 10 anos e TIR de 4% deveria ser rejeitado em Portugal (com o custo do capital a 4,66%), mas poderia ser aceite na Alemanha (com o custo do capital a 3,98%). Só no curto prazo as taxas dos países estão próximas, mas à excepção das discotecas onde o ‘payback' de segurança exigido é de 1 ano, os investimentos geradores de riqueza e emprego são de longo prazo.

Quarto, com esta desproporção entre o custo do capital na Europa, a recuperação da economia vai fazer-se a ritmos diferentes. O desenvolvimento pode tender a concentrar-se "lá" e a deixar de se fazer "cá".

Quinto, quanto mais as empresas sofrerem este desfasamento entre o custo do capital em Portugal e o dos países mais fortes da União Europeia, menos riqueza gerarão e menos lucro e emprego conservarão. A base de tributação (impostos sobre o rendimento ou sobre lucros) reduzir-se-á.

Sexto, quanto mais a base de tributação se reduz mais o Estado português tenderá a endividar-se para manter o mesmo nível de actividade de investimento ou de actividade social (a qual tem tendência a agravar-se pelo preocupante envelhecimento da sociedade portuguesa), aumentando ainda mais o risco do país e o custo do capital.

Sétimo. Entraremos por esta via numa espiral de definhamento nacional. Os jovens irão partir porque é "lá" que haverá emprego e riqueza e os velhos ficarão por "cá" com menos para se sustentarem...

Remédio? Ou tomam juízo no destino a dar ao dinheiro público ou então, "Que toque a fanfarra, cambada!"

João Duque
, Professor catedrático do ISEGDiário Económico

O “apelido” de Sócrates

Teve origem no “2º acto” desta legislatura e insere-se no proclamado plano tecnológico do governo socialista de José Sócrates. O computador Magalhães prometeu, por palavras dos nossos governantes, revolucionar o sistema de ensino em Portugal, proporcionando o contacto antecipado das crianças com sistemas informatizados.

Cedo se percebeu que mais um acto típico de propaganda estaria a eclodir na sociedade portuguesa, desta vez alicerçada no já tão investido mas tão castigado sistema de ensino português. Consta que a insatisfação na educação é a palavra de ordem na sequência da introdução do Magalhães nas escolas portuguesas. Segundo o Diário de Notícias, os docentes do 1º ciclo estão a ficar fartos do Magalhães, fartos não só dos erros ortográficos, mas também dos erros informáticos, grandes causadores de perdas de tempo e paciência nas salas de aula. Referem ainda que se sentem transformados em “técnicos de informática” e que as causas principais das queixas contra o computador residem nas solicitações diárias para actualizações, registos e rectificações do mesmo. “Todos os dias aparecem pais a depositar os computadores”. Segundo Manuel Micaelo, do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, o sindicato tem recebido muitas queixas de professores desde o início.

Certo dia, ao ligarmos a rádio, a televisão ou ao olharmos no jornal, deparámo-nos com a triste notícia sobre conteúdos pouco sérios no computador Magalhães. Nesse dia, segundo os media, o Magalhães possuía um português que deixava algo a desejar, como era de esperar, mas não só. Erros ortográficos num determinado jogo interactivo no computador, dito cultural e pedagógico, atentavam o manual de inteligência dos mais pequenos. Erros como «gravar-lo», «puxando-las», «acabas-te», «fés» constavam numa edição do Jornal Expresso. Mais grave e extraordinário é o facto do excelente vocabulário presente neste jogo, segundo informações que circularam, ter sido desenvolvido por um emigrante português com a 4ª classe. De que estavam á espera?

Uma testemunha dos efeitos benéficos do Magalhães nas crianças refere que um dos netos com idade a rondar os sete anos também recebeu este computador. No entanto, segundo a própria, o rapaz não consegue sequer ler (porque ainda não sabe) e, por isso, é incapaz de “trabalhar” com o Magalhães. Neste sentido, torna-se fundamental reflectir acerca destes instrumentos inovadores, impostos por este governo, reflectir, nós, povo português, nós que andamos a adiar os problemas do nosso sistema de ensino, não apenas atirando para lá dinheiro mas, pelos vistos, também, contraindo medidas obrigatórias que se revelam ridículas para a formação dos nossos estudantes. Como refere António Barreto numa excelente entrevista de opinião, é demasiado prematura a implementação deste instrumento nas escolas portuguesas. O Magalhães irá tornar ainda mais preocupante a já falta de cultura de leitura em Portugal, na medida em que estão a fazer com que as crianças comecem a tomar contacto mais cedo com as realidades informáticas e, por isso, com todos os males que daí advêm e, obviamente, com ainda maior influência no gosto, frequência e prazer pela leitura de artigos científicos e livros de qualidade reconhecida.

Na minha opinião, com esta medida estamos a adiar os problemas dos nossos alunos, professores e auxiliares de educação e, deste modo, as grandes lacunas do nosso ensino ficam por resolver e as gerações futuras continuarão “hipotecadas”. Continuaremos a formar profissionais altamente incompetentes com o 12º ano, pois a maioria das pessoas que acabe o 12º ano em Portugal não sabe muito mais que o básico em relação ao que é necessário e exigido para um ensino técnico ou superior de qualidade.

Mais uma vez e mais um governo português realiza investimentos significativos na educação e sempre em vão, como é exemplo o quadro do doutor Henrique Medina Carreira (Ex-ministro das finanças do Dr. Mário Soares) no livro “O dever da verdade”, onde podemos ver que Portugal, nos últimos anos, é dos países da União Europeia a 15 onde se investe mais na educação, apenas superado pela Bélgica, Suécia e Dinamarca onde, ao contrário de Portugal, se verificam resultados a longo prazo (a posição das respectivas economias e a rentabilidade e disciplina associada a estes sectores assim o demonstram). Inevitavelmente, dos números ninguém se livra e estes indicadores pronunciam algo de assustador. Importa que a colectividade reflicta á luz deste quadro e pense no que foi feito, no que está a ser realizado e no que será o futuro do ensino e do dinheiro dos contribuintes com esta política que tem vindo a ser seguida pelos nossos representantes.
Neste sentido, enquanto não se impuser a disciplina nas escolas, a adopção de manuais escolares com qualidade e feitos por intelectuais experientes da cultura, da matemática, do português e não pelo Ministério da Educação e ainda o rigor e a periocidade nos exames, a educação dos portugueses nunca sairá desta prisão política e, mais uma vez, as gerações vindouras contribuirão como nunca para o fluxo migratório além Portugal.

Jorge Manuel Honório