quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Energia à portuguesa


Esta semana, o jornal americano New York Times destacou uma notícia sobre Portugal em que nos coloca como um exemplo a seguir no campo energético. Foi uma excelente notícia para o nosso país e talvez, quiçá, a (única?!) medida, nos últimos 10 anos, que trará benefícios económicos nos próximos anos: o tema energético.

O jornal americano destaca que 45% da energia consumida em Portugal já advém de fontes renováveis (em substituição dos combustíveis fósseis) e que em 2011, segundo o primeiro-ministro (em quem nem sempre podemos e devemos acreditar), o país espera ser o primeiro a instalar postos de «abastecimento» para carros eléctricos. Note-se que, segundo relatórios da Agência Internacional para a Energia, só em 2025 países como a Irlanda ou a Dinamarca terão 40% da sua base energética em fontes renováveis.

O jornal nota também que os preços da energia são maiores em Portugal que nos EUA, facto para que terá também contribuído os crescentes investimentos das empresas na nova estrutura energética, quer internamente, quer externamente. Os preços subiram 15% nos últimos 5 anos.

Os apoios ao financiamento para a aquisição de painéis solares aparecem, neste sentido, como uma iniciativa de sucesso mas também com alguns aspectos negativos. Assumindo, o Estado português, uma política correcta em termos de sustentabilidade energética futura, tal política tem custos actuais elevados, ainda mais numa época de recessão económica e incertezas no panorama político-financeiro da União Europeia. Mais ainda, com as subidas das tarifas energéticas são os mais pobres, aqueles que já são prejudicados pela criminosa educação e pela não democrática justiça, aqueles que sofrem mais com tamanha política despesista e estadista praticada pelo partido socialista nos últimos 15 anos.

E sabemos que a classe pobre (rendimentos anuais inferiores a 10.000 €) já constituem mais de metade de toda a população portuguesa! Não obstante e se ainda existirmos daqui a 10 anos, estaremos agradecidos a estes desenvolvimentos na política energética e à visibilidade que permitirá atrair bom investimento estrangeiro para o nosso país.


Jorge Manuel Honório

domingo, 11 de julho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Investoscópio

Galp Energia, S.A.

Hoje estrearei uma rubrica dedicada aos mercados financeiros de empresas europeias (especialmente as portuguesas) cotadas em bolsa. Neste sentido, o primeiro artigo terá como enfoque a Galp Energia, S.A., empresa petrolífera portuguesa.

A Galp Energia desenvolve a sua principal actividade no comércio de combustíveis e refinação. Opera em três segmentos de negócio: exploração e produção de petróleo (principalmente no Brasil e em Angola), exclusividade nacional em refinação e distribuição de derivados e gás e energia eléctrica / gás natural.

Estrutura accionista e dimensão internacional

A estrutura accionista da Galp, S.A. é constituída por 41% de capital nacional, com as participações minoritárias do Grupo Amorim, da sociedade gestora de participações sociais Párpública, SGPS. e a Caixa Geral de Depósitos (capital público). Outros 33% são relativos à participação da multinacional italiana ENI. No entanto, já foi anunciado que a italiana pretende alienar a totalidade da posição, sendo que estão melhor posicionadas, segundo o Diário Económico, a brasileira Petrobras (25%) e a Caixa Geral de Depósitos (8%) – para evitar a obrigação de uma OPA por parte da petrolífera brasileira, empresa com participação maioritária do governo brasileiro, com uma capitalização bolsista na ordem dos 63 mil milhões de euros, rendibilidade de capitais de 17% e volume de negócios de 122 mil milhões de euros. O restante capital (25%) está em livre circulação nos mercados bolsistas (free float).

A Galp. S.A. está presente em 13 países, 6 dos quais africanos e 3 sul-americanos. Na Europa tem presença em Portugal e Espanha onde se dedica, basicamente, a efeitos e campanhas de comercialização.

Análise técnica

Ao nível da análise técnica realizada segundo histórico e previsão de cotações e transacções em bolsa, a Galp, S.A. opera no índice PSI-20, correspondente às maiores 20 empresas portuguesas.

Desde já alerto que a análise técnica não é a minha especialidade e que nem tenho grande admiração por ela já que se destina, em grande parte, à especulação dos mercados. Pode ser positiva, no entanto, para atender a uma melhor estimativa do momento de entrada e saída das posições. Tive, consequentemente, de fazer um esforço de conhecimento de algumas técnicas para poder escrever este meu artigo. A empresa apresenta a evolução homóloga abaixo descrita:


Apesar da forte volatilidade que assolou os mercados bolsistas neste período compreendido de análise, a empresa apresentou robustez e é das poucas acções (senão a única) que contabiliza uma performance positiva desde o início do ano.

Segundo a teoria da análise técnica, quando desejamos abrir posição numa determinada empresa, a aquisição é desejável em períodos onde o preço de fecho cruza o preço médio definido para um certo número de datas. Segundo a minha análise, verificamos duas boas datas para abertura de posição: Janeiro/Fevereiro de 2010 (preço aproximado de 11,90 €) e Abril/Maio de 2010 (preço aproximado de 12,00 €), alturas em que o preço de mercado superou a média de preços da empresa e, portanto, com o significado de que certamente irá subir.

Optei por não definir zonas de resistência / suporte já que entendo que não se justifica atendendo à evolução estável das cotações. O “core business” da empresa está na transformação e comercialização de combustível, “commoditie” que beneficia de períodos de retoma / crescimento económico nos mercados globais.

Em função da boa evolução de longo prazo das acções da empresa, da ausência de volatilidade significativa mesmo em época de especulação sobre os activos financeiros e dívidas soberanas e as projecções para a evolução ascendente dos preços do crude, são todos factores favoráveis a uma posição compradora dos títulos da Galp, S.A.

Análise fundamental

A análise financeira à evolução dos indicadores de desempenho e situação financeira, normalmente a mais utilizada pelos investidores de longo prazo, indica uma base de sustentação para um eventual investimento. Neste sentido, será útil ao investidor analisar os relatórios & contas anuais das empresas e, dependendo do respectivo perfil de risco, decidir sobre esses resultados.

Na Galp Energia, S.A., o volume de negócios sofreu alterações algo significativas, com destaque para o ano de 2008 e o ano de 2009 onde se verificaram as principais evoluções dos últimos 5 anos. Neste sentido, verifica-se o seguinte:


O volume de vendas cresceu 23% entre 2006 e 2008, tendo sofrido uma queda de 20% em 2009. Nota mais importante, todavia, para o aspecto relacional entre o nível de facturação e a capacidade marginal desta sobre os custos de comercialização e produção. Claramente na análise, constatamos que apesar do crescimento de 20% em 2008, a margem comercial teve um decréscimo de 7%. A empresa teve uma forte quebra de eficiência neste ano, sendo talvez este o factor mais preocupante na previsão de fluxos futuros.

O segundo factor para mim mais importante e elucidativo da capacidade de absorção de valor accionista e de avaliação da tendência evolutiva dos níveis de investimento consiste no peso dos encargos financeiros na margem líquida. Neste indicador, verificamos que a empresa estava numa posição bastante aceitável até Dezembro de 2007. Daí para cá, verificamos um crescimento de 7% para 38% em 2008, um agravamento significativo e prejudicial na óptica do investidor de curto prazo. Os 38% foram reduzidos para 19% em 2009. Pessoalmente, gosto que este indicador seja inferior a 15% mas poderemos destacar positivamente a visão de geração de fluxos e resultados a médio / longo prazo decorrentes desta óptica presente de investimento.

No que toca à estrutura de capital, destaco os principais indicadores de análise de situação e viabilidade de uma empresa: a solvabilidade e a rendibilidade de capitais. O gráfico da Galp, S.A. apresenta a seguinte evolução:


A rendibilidade do capital próprio vem numa tendência negativa desde 2006, tendo invertido tendência agora em 2009, corroborando com a minha ideia de que a Galp, S.A. será uma das principais beneficiadas pela retoma económica e financeira dos próximos anos e, consequentemente, pelo aumento dos preços do petróleo. Apesar da solvabilidade em forte queda nos últimos anos, provocada pelo aumento do passivo para investimentos na refinação e nova extracção de petróleos e componentes noutros países, não sou da opinião que tal facto prejudique as perspectivas económicas da empresa para os próximos anos.

Declaração de interesse: não tenho qualquer exposição a títulos da empresa em análise.


Jorge Manuel Honório, Gestor financeiro

domingo, 30 de maio de 2010

As desvantagens da alternativa fiscal

Há duas semanas propus aqui uma resposta fiscal à crise em Portugal de efeito imediato. Consistia, por um lado, em diminuir (ou mesmo eliminar) a contribuição do empregador para a segurança social (TSU) para reduzir os custos das empresas e torná-las competitivas. Por outro lado, aumentar o IVA, estendendo-o a todos os bens a uma taxa única de 20%, eliminando os regimes especiais e a isenção da habitação (eliminando o IMT em troca). Uma alternativa mais suave seria reduzir o TSU e aumentar proporcionalmente as taxas de todos os regimes do IVA, do IMT, e um imposto sobre as rendas.

Esta medida tem duas virtudes. Primeiro é equivalente a uma desvalorização cambial feita pela avenida fiscal. Logo, estimula as exportações e penaliza as importações, aumentando o PIB e reduzindo o nosso défice externo. Segundo, aumentar o imposto sobre o consumo estimula a poupança, ajudando a combater o nosso endividamento. As duas medidas combinadas, feitas na medida certa, têm zero efeito no défice público.

Nicolau Santos no último "Expresso" pediu que se estudasse melhor esta proposta. Para avançar a discussão, aqui ficam o que penso serem os quatro principais problemas:

1. Aumenta a desigualdade. Os ricos poupam mais que os pobres. Logo, qualquer aumento do IVA recai sobre uma maior parcela do rendimento dos pobres. Note--se que isto é inevitável: qualquer medida que promova a poupança tem este efeito. Pode-se no entanto combatê-lo alterando também o IRS. Permitir mais deduções fiscais associadas às poupanças, e escalonadas com os rendimentos, neutraliza o efeito na desigualdade sem afectar a eficácia da proposta.

2. Aumenta o custo de vida. O preço dos bens importados aumenta, logo os portugueses ficam mais pobres. Novamente, isto é inevitável e intrínseco a qualquer desvalorização. Ao mesmo tempo, a médio prazo os salários vão subir na mesma medida que a TSU desceu, recuperando esta perda.

3. A desvalorização é temporária. Assim que os salários subirem, o efeito competitivo desaparece. Mas fica o efeito de estímulo à poupança. Se este aumenta o investimento e promove o crescimento económico, ficamos todos mais ricos permanentemente.

4. Distrai-se a atenção das reformas essenciais. No ensaio original já apontava esta preocupação. Para Portugal voltar a crescer temos de fazer reformas estruturais: flexibilizar o mercado de trabalho, reformar o sistema de justiça, aumentar a concorrência, reduzir custos de transporte e dependência energética, e reduzir a despesa pública. Todos os economistas credíveis já repetiram isto vezes sem conta. Nenhuma engenharia fiscal substitui a necessidade urgente destas reformas.

Não há soluções perfeitas, mas ainda estamos a tempo de escolher o nosso caminho, em vez de deixar que seja imposto de fora pelo FMI ou pela UE.

Ricardo Reis, Professor de Economia da Universidade de Columbia

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Realidades económicas do Oriente

Os países asiáticos surgem neste final de década como os grandes países emergentes e sobreviventes à forte crise financeira e económica que o mundo está a viver. Nomeadamente a China, assume-se hoje como um caso de sucesso de modelos de gestão financeira e económica, inspiradores de novas estratégias, mesmo para muitas indústrias dos países mais desenvolvidos no mundo.

A China é um país em forte desenvolvimento nos últimos 20 anos, após a combinação de um ambicioso programa de reformas estruturais e o ressurgimento de valores tradicionais antigos da mentalidade e ambição orientais. Factualmente, a riqueza criada internamente por este país cresceu 100% todos os anos nos últimos 20 (em termos comparativos com o ano de 1980).

Este enorme crescimento económico não tem, ainda, relação equivalente com o nível de vida e avanço da sociedade chinesa. Por exemplo, a economia corresponde a cerca de 5% da economia mundial, enquanto o Japão preenche 10%, a União Europeia 32% e os Estados Unidos da América 30%. Mais ainda, o rendimento per capita é ínfimo em relação à riqueza criada na China e decorrente não apenas da elevada densidade populacional mas também das enormes assimetrias regionais existentes.

A história da economia chinesa tem registado enormes mudanças e retornos em torno duma viragem de economia de mercado para economia estatal e vice versa, embora se tenha afirmado ultimamente e com maior clareza como uma economia de mercado e, desta forma, mais mundializada. O Estado, ainda bastante interventivo, governado pelo Partido Comunista Chinês, foi perdendo, gradualmente, intervenção na esfera económica e superou barreiras importantes como a proibição do comércio externo. Aliás, este passou a ser o principal motor do crescimento económico. As empresas públicas representam hoje menos de 30% da economia nacional e o sector terciário encontra-se em grande expansão neste mercado, factores também positivos na complementaridade da actividade económica.

O país beneficia actualmente de um conjunto de valores e ideologias próprias da cultura chinesa e que acabam por gerar potencialidades económico-empresariais significativas. Predomina uma cultura muito nómada entre a população chinesa e no qual a mobilidade é um recurso de extrema importância na actividade empresarial do país. Tal permite uma fortificação de conhecimento e inovação apoiado em fortes redes comunicacionais entre os vários empresários dos inúmeros sectores de actividade. A rede fornecedor-cliente é altamente beneficiada e a gestão de cada parte é quase que partilhada mutuamente no sentido da melhoria dos custos de produção e alta performance nos padrões de qualidade. O cliente influencia e pressiona a gestão do fornecedor no sentido de comprar mais barato e com melhor qualidade, enquanto aquele procura, por seu lado, ampliar o leque de clientes.

A China é um mercado em franca expansão nas últimas duas décadas. Todavia, é um país dividido por duas velocidades e fragilizado pelas elevadas assimetrias entre a zona oeste e a zona este. Segundo estudos oficiais divulgados pela OMC, caso os pressupostos definidos pela China até 2050 sejam concretizados, o país não passará de um território moderadamente desenvolvido.
Jorge Manuel Honório

domingo, 28 de março de 2010

RISE AGAINST em Portugal



6 Julho 2010 - Coliseu dos Recreios

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Socrate-nesianismo

A entrada na última década, o novo milénio, ficou para sempre marcada pela adesão de Portugal ao sistema monetário único europeu, o denominado Euro. Para o bem e para o mal, este foi talvez o procedimento mais importante da história dos últimos 30 anos para o nosso país, já que viria a ter alterações profundas em inúmeros sectores e indicadores da sociedade portuguesa.

Pouco conscientes do caminho que iriam trilhar, os responsáveis políticos nacionais, atraídos pelo ambiente excessivamente especulativo e ilusório sobre as potencialidades de desenvolvimento ao nível das relações comerciais e equilíbrio da balança comercial e de transacções com o exterior, caíram naquilo a que Krugman chamou a “armadilha do euro”.

Este novo fenómeno veio terminar com a lógica económica de que muitos continuam a proclamar inconscientemente, a lógica Keynesiana. Esta doutrina económica baseava-se na teoria de que a poupança criava elevado desemprego e, portanto, o caminho estava no investimento público sectorial, quando era necessário substituir a falta de capacidade do sector privado (mais visível em períodos de crise económica). Segundo Keynes, era indispensável que o Estado se substituísse ao Privado sempre que os níveis de consumo e investimento decaíam.

Contudo, o que os estados europeus e, principalmente Portugal e o ministro Sócrates não compreenderam, é que esta era uma realidade para países tipo EUA, caracterizados por uma economia “independente”, isto é, com uma moeda própria e controlo monetário-económico sobre a indústria nacional. Nesta óptica, segundo a doutrina Keynesiana, quanto mais se consumia, mais as empresas nacionais vendiam e enriqueciam e mais investimento se criava, proporcionando o aumento das taxas de empregabilidade, ciclo que esbarraria, por fim, naquilo a que Samuelson estudou e denominou de efeitos especulativos e inflacionários. Ora o que acontece hoje em países como Portugal é que, perante a incapacidade das empresas portuguesas em possibilitar uma oferta que agrade à nossa população e com a economia globalizada, o aumento do consumo é dirigido às empresas que melhor oferta proporcionam, ou seja, as empresas estrangeiras com actividade em solo português. Neste sentido, em economias com fracos níveis de oferta de produtos transaccionáveis, mais consumo implicará maiores défices comerciais e, consecutivamente, financeiros para o Estado.

A economia portuguesa encaixa-se neste padrão descrito e a comprová-lo está que, aquando da UE a 15, Portugal era o país na cauda deste grupo e, mesmo agora na EU a 27, Portugal é o penúltimo país no ranking dos 27. Mais ainda, a mais recente adesão destes novos países de Leste veio agravar, em crescendo, a posição portuguesa, já que os empresários e as grandes indústrias produtoras e transformadoras olharam para os mesmos como excelentes oportunidades de escala. Custos laborais mais atraentes, economia e sociedade em desenvolvimento e, portanto, com potencial a 20, 30 anos, fiscalidade menos complexa, maior proximidade geográfica ao centro económico europeu e uma educação rigorosa e disciplinada, ainda proveniente, em parte, dos anos recentes de ditadura que muitos viveram.


Jorge Manuel Honório

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O fim da linha


Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor´.

Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”.

É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta.

Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.

Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”.
Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Mário Crespo - Jornalista

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Educação: o caminho à prosperidade

Como sabemos e até já estamos enjoados, a situação económica em Portugal, hoje com reflexos mais que evidentes na condição social, cultural e financeira da população portuguesa, é um plano inclinado sem retrocesso nos últimos 15/20 anos. A geração de riqueza e as condições do mercado de trabalho deterioraram-se como nunca antes acontecera, tornando a realidade de hoje cruel e injusta para os mais pobres, aqueles que estão mais dependentes do «aparelho público». É neste sentido que procuro lançar umas ideias sobre aquele que para mim é o maior problema do nosso país e que, sendo de certa forma atalhado, resolveria ou aliviaria muito os restantes problemas que afectam o funcionamento das instituições democráticas.

A evolução da economia portuguesa assemelha-se ao gráfico apresentado em baixo.

Um cenário devastador da nossa actual realidade e que exigirá, obviamente, novos caminhos e renovadas abordagens à sociedade. A par deste caminho económico que trilhamos, com influência na riqueza da população, no endividamento do Estado (que precisa de financiar o necessário «Estado Social») e na descrença do investidor e empresário, está a situação do emprego. O empresário e o patrão portugueses já não acreditam nas capacidades formativas e individuais do estudante, formando ou licenciado português.. Há dias um chefe de obra dizia que é incomparável a produtividade de um indivíduo português e um romeno. À medida que ia colocando estrangeiros no seu trabalho, notava um aumento de eficiência e celeridade no trabalho de obra. Será, portanto, de estranhar esta trajectória da taxa de desemprego portuguesa neste mundo globalizado?

Não tenho grandes dúvidas acerca do actual desajustamento e falta de exigência do ensino em Portugal, que se resume a uma espécie de «passeio floral» nas escolas e os quais, como os alunos não têm exames no final do ano, não lhes é exigido que estudem. Além do mais, os programas não têm interesse, os manuais são péssimos e mal dirigidos e o funcionamento das aulas, pouco práticas, não suscitam conhecimento prático e saber indispensáveis. Todo este «caldo» moderno, aliado à fraca qualificação do tecido empresarial português, ainda maioritariamente composto pelo «empresário da 4ª classe», não oferecem condições de evolução necessária ao enriquecimento e sustentabilidade do nosso país.

A minha teoria de que o principal problema do país está na educação é, de certa forma, explicada pelo gráfico da minha autoria, abaixo enunciado. Quando todos concluímos que, em Portugal, nada funciona, seja a justiça, a política, a saúde, a corrupção, a iniciativa privada, só pode haver uma consideração por onde nos debruçar: a educação, os valores e a poupança.

A educação é a raiz de todo o fundamento social e a economia o pêndulo da nossa situação sócio-financeira e bem estar. Como demonstro no gráfico, a educação é a base de toda a estrutura e que ao possibilitar eficiência ao sector privado e ao sector público, tem um efeito positivo indirecto nas finanças públicas e, consequentemente, permite gerir um «Estado Social» justo. Directamente, tem a vantagem de viabilizar e facilitar o acesso ao mercado privado, seja por conta doutrem, seja por conta própria. Pensemos: por que motivo estarão tantas pessoas dependentes do aparelho central e cada vez menos da iniciativa privada e conta própria? Creio que isto terá uma resposta óbvia.

No gráfico, apresento-vos uma síntese da estrutura geral de «governo» de um país. Como podemos observar, a educação (sem antes a família) é o sustento de todo o processo organizacional chamado Portugal. É nela que jogamos o nosso futuro e é esta visão que deve ser dada e a explicação que todos devem imputar às nossas crianças e estudantes. Neles está a esperança e nos pais a sabedoria/experiência. Tive o cuidado de colocar a vermelho os relacionamentos que falham na nossa sociedade, aqueles que, correctamente geridos, possibilitariam dar um bom impulso a toda a «máquina económica». Um está, inclusive, a vermelho e sinalizado, indicando que não apenas carece de ligação como, mais ainda, não estão a ser adoptadas políticas claras que defendam a iniciativa patronal e a livre expansão da economia de mercado.

A linha a vermelho na direita refere-se à relação entre as empresas e o mercado de trabalho a é explicada pela fraca relação entre a formação do trabalhador que leva à ausência de correlação entre as necessidades da empresa e os requisitos de preparação de licenciados e estudantes do ensino técnico-profissional. A resposta para este grande problema chama-se, obviamente, educação.

A outra relação e que defini como proibitiva é a relação entre o poder político e a iniciativa privada. Sabemos que a ideologia socialista defende o intervencionismo do Estado na esfera económica, assunto a que aliás não me oponho a não ser nestes moldes a que assistimos com este governo em especial. A penetração do político no empresarial e vice versa mina o mercado concorrencial em Portugal, criando mais um problema de que não necessitaríamos de modo algum. As tão faladas Parcerias Público Privadas vão contra o capitalismo moderno, de incentivo ao risco e ao investimento gerador de riqueza futura. As PPP´s atentam contra a livre e justa iniciativa de mercado, já que as empresas mais ligadas ao Estado procuram a exploração de negócios de risco em situações lucrativas mas, nas situações de prejuízo, é aquele que assume com as consequências e, obviamente, o contribuinte. Esta é uma questão lateral à formação, mas frontal aos valores e ética que imperam nas nossas personalidades e que a própria mudança geracional e educativa deverá poder alterar.

A situação económica e a desqualificação crescente do novo estudante e do velho empresário resultaram na saída de muitas empresas do nosso país para outros, onde a mão de obra mais barata é, também, mais qualificada. A ideia que tenho desenvolvido nos últimos tempos e creio poder ser um grande problema e, na viragem, a principal solução, assenta no facto do ensino em Portugal não salvaguardar a criação do emprego por conta própria, seja nas áreas económicas, educacionais, artes, música, saúde, todas. Não existe um «tecido prático» em cada tipo de formação e que assegure aos seus executantes a sustentabilidade individual perante a falta de emprego e de, cada vez mais, empregadores.

Aliás, este conceito de orientação para a criação do próprio emprego como refúgio para o cidadão é enriquecedor para a formação individual, moral e profissional, e para o crescimento do produto económico do nosso país. Será um bem necessário já que o sector da indústria terá cada vez menos tendência para empregar, face aos meios de inovação e tecnologias disponíveis no mercado. Portanto, estamos numa situação obviamente viável e recomendável para todos. Não é sustentável que os licenciados de hoje não se sintam capazes de assumir a entrada no mercado de trabalho pela via individual, não sendo, por isso, de espantar que as universidades portuguesas nem apareçam sequer nos rankings europeus.

Outra meta decisiva para as próximas décadas é a inserção de matérias científicas nas licenciaturas em Gestão e Economia, de forma a promover um empresário com conhecimentos em Química, Física e Electrónica e a desenvolver um novo mercado de trabalho orientado e sustentado na inovação empresarial e do produto. As universidades carecem de teor científico associado aos novos desafios de hoje. Lamento, pessoalmente, nunca ter tido qualquer formação universitária em física ou química, pois creio que seria fundamental para conseguir, hoje, criar um negócio rico e líder em inovação. Toda a vertente da educação tem de se virar para a possibilidade de criação do próprio emprego e para as novas tecnologias e inovação. Só assim, poderemos, por um lado, diminuir o desemprego e a calamidade social daqueles que, mais que ninguém, o necessitam e, por outro lado, acrescentar competitividade às empresas nacionais não apenas para que possam «produzir para nós», desagravando a despesa nacional relativa aos bens transaccionáveis do exterior, mas que igualmente possam entrar em novos mercados e gerar riqueza.

Concluindo, os portugueses não poderão deixar de concordar com este facto e, deste modo, deverão assumir novos desafios de mudança neste sentido. Só assim conseguiremos ser todos mais felizes neste belo país que é Portugal e onde adoramos estar, enfrentando a necessidade e adquirindo a coragem e a verdade na hora do voto para quem proclama esta política e define esta prioridade para o combate das próximas décadas. Da minha parte, direi que poderão sempre contar comigo para esta causa.

















Jorge Manuel Honório