domingo, 12 de abril de 2009

O “apelido” de Sócrates

Teve origem no “2º acto” desta legislatura e insere-se no proclamado plano tecnológico do governo socialista de José Sócrates. O computador Magalhães prometeu, por palavras dos nossos governantes, revolucionar o sistema de ensino em Portugal, proporcionando o contacto antecipado das crianças com sistemas informatizados.

Cedo se percebeu que mais um acto típico de propaganda estaria a eclodir na sociedade portuguesa, desta vez alicerçada no já tão investido mas tão castigado sistema de ensino português. Consta que a insatisfação na educação é a palavra de ordem na sequência da introdução do Magalhães nas escolas portuguesas. Segundo o Diário de Notícias, os docentes do 1º ciclo estão a ficar fartos do Magalhães, fartos não só dos erros ortográficos, mas também dos erros informáticos, grandes causadores de perdas de tempo e paciência nas salas de aula. Referem ainda que se sentem transformados em “técnicos de informática” e que as causas principais das queixas contra o computador residem nas solicitações diárias para actualizações, registos e rectificações do mesmo. “Todos os dias aparecem pais a depositar os computadores”. Segundo Manuel Micaelo, do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, o sindicato tem recebido muitas queixas de professores desde o início.

Certo dia, ao ligarmos a rádio, a televisão ou ao olharmos no jornal, deparámo-nos com a triste notícia sobre conteúdos pouco sérios no computador Magalhães. Nesse dia, segundo os media, o Magalhães possuía um português que deixava algo a desejar, como era de esperar, mas não só. Erros ortográficos num determinado jogo interactivo no computador, dito cultural e pedagógico, atentavam o manual de inteligência dos mais pequenos. Erros como «gravar-lo», «puxando-las», «acabas-te», «fés» constavam numa edição do Jornal Expresso. Mais grave e extraordinário é o facto do excelente vocabulário presente neste jogo, segundo informações que circularam, ter sido desenvolvido por um emigrante português com a 4ª classe. De que estavam á espera?

Uma testemunha dos efeitos benéficos do Magalhães nas crianças refere que um dos netos com idade a rondar os sete anos também recebeu este computador. No entanto, segundo a própria, o rapaz não consegue sequer ler (porque ainda não sabe) e, por isso, é incapaz de “trabalhar” com o Magalhães. Neste sentido, torna-se fundamental reflectir acerca destes instrumentos inovadores, impostos por este governo, reflectir, nós, povo português, nós que andamos a adiar os problemas do nosso sistema de ensino, não apenas atirando para lá dinheiro mas, pelos vistos, também, contraindo medidas obrigatórias que se revelam ridículas para a formação dos nossos estudantes. Como refere António Barreto numa excelente entrevista de opinião, é demasiado prematura a implementação deste instrumento nas escolas portuguesas. O Magalhães irá tornar ainda mais preocupante a já falta de cultura de leitura em Portugal, na medida em que estão a fazer com que as crianças comecem a tomar contacto mais cedo com as realidades informáticas e, por isso, com todos os males que daí advêm e, obviamente, com ainda maior influência no gosto, frequência e prazer pela leitura de artigos científicos e livros de qualidade reconhecida.

Na minha opinião, com esta medida estamos a adiar os problemas dos nossos alunos, professores e auxiliares de educação e, deste modo, as grandes lacunas do nosso ensino ficam por resolver e as gerações futuras continuarão “hipotecadas”. Continuaremos a formar profissionais altamente incompetentes com o 12º ano, pois a maioria das pessoas que acabe o 12º ano em Portugal não sabe muito mais que o básico em relação ao que é necessário e exigido para um ensino técnico ou superior de qualidade.

Mais uma vez e mais um governo português realiza investimentos significativos na educação e sempre em vão, como é exemplo o quadro do doutor Henrique Medina Carreira (Ex-ministro das finanças do Dr. Mário Soares) no livro “O dever da verdade”, onde podemos ver que Portugal, nos últimos anos, é dos países da União Europeia a 15 onde se investe mais na educação, apenas superado pela Bélgica, Suécia e Dinamarca onde, ao contrário de Portugal, se verificam resultados a longo prazo (a posição das respectivas economias e a rentabilidade e disciplina associada a estes sectores assim o demonstram). Inevitavelmente, dos números ninguém se livra e estes indicadores pronunciam algo de assustador. Importa que a colectividade reflicta á luz deste quadro e pense no que foi feito, no que está a ser realizado e no que será o futuro do ensino e do dinheiro dos contribuintes com esta política que tem vindo a ser seguida pelos nossos representantes.
Neste sentido, enquanto não se impuser a disciplina nas escolas, a adopção de manuais escolares com qualidade e feitos por intelectuais experientes da cultura, da matemática, do português e não pelo Ministério da Educação e ainda o rigor e a periocidade nos exames, a educação dos portugueses nunca sairá desta prisão política e, mais uma vez, as gerações vindouras contribuirão como nunca para o fluxo migratório além Portugal.

Jorge Manuel Honório

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