quarta-feira, 23 de junho de 2010

Investoscópio

Galp Energia, S.A.

Hoje estrearei uma rubrica dedicada aos mercados financeiros de empresas europeias (especialmente as portuguesas) cotadas em bolsa. Neste sentido, o primeiro artigo terá como enfoque a Galp Energia, S.A., empresa petrolífera portuguesa.

A Galp Energia desenvolve a sua principal actividade no comércio de combustíveis e refinação. Opera em três segmentos de negócio: exploração e produção de petróleo (principalmente no Brasil e em Angola), exclusividade nacional em refinação e distribuição de derivados e gás e energia eléctrica / gás natural.

Estrutura accionista e dimensão internacional

A estrutura accionista da Galp, S.A. é constituída por 41% de capital nacional, com as participações minoritárias do Grupo Amorim, da sociedade gestora de participações sociais Párpública, SGPS. e a Caixa Geral de Depósitos (capital público). Outros 33% são relativos à participação da multinacional italiana ENI. No entanto, já foi anunciado que a italiana pretende alienar a totalidade da posição, sendo que estão melhor posicionadas, segundo o Diário Económico, a brasileira Petrobras (25%) e a Caixa Geral de Depósitos (8%) – para evitar a obrigação de uma OPA por parte da petrolífera brasileira, empresa com participação maioritária do governo brasileiro, com uma capitalização bolsista na ordem dos 63 mil milhões de euros, rendibilidade de capitais de 17% e volume de negócios de 122 mil milhões de euros. O restante capital (25%) está em livre circulação nos mercados bolsistas (free float).

A Galp. S.A. está presente em 13 países, 6 dos quais africanos e 3 sul-americanos. Na Europa tem presença em Portugal e Espanha onde se dedica, basicamente, a efeitos e campanhas de comercialização.

Análise técnica

Ao nível da análise técnica realizada segundo histórico e previsão de cotações e transacções em bolsa, a Galp, S.A. opera no índice PSI-20, correspondente às maiores 20 empresas portuguesas.

Desde já alerto que a análise técnica não é a minha especialidade e que nem tenho grande admiração por ela já que se destina, em grande parte, à especulação dos mercados. Pode ser positiva, no entanto, para atender a uma melhor estimativa do momento de entrada e saída das posições. Tive, consequentemente, de fazer um esforço de conhecimento de algumas técnicas para poder escrever este meu artigo. A empresa apresenta a evolução homóloga abaixo descrita:


Apesar da forte volatilidade que assolou os mercados bolsistas neste período compreendido de análise, a empresa apresentou robustez e é das poucas acções (senão a única) que contabiliza uma performance positiva desde o início do ano.

Segundo a teoria da análise técnica, quando desejamos abrir posição numa determinada empresa, a aquisição é desejável em períodos onde o preço de fecho cruza o preço médio definido para um certo número de datas. Segundo a minha análise, verificamos duas boas datas para abertura de posição: Janeiro/Fevereiro de 2010 (preço aproximado de 11,90 €) e Abril/Maio de 2010 (preço aproximado de 12,00 €), alturas em que o preço de mercado superou a média de preços da empresa e, portanto, com o significado de que certamente irá subir.

Optei por não definir zonas de resistência / suporte já que entendo que não se justifica atendendo à evolução estável das cotações. O “core business” da empresa está na transformação e comercialização de combustível, “commoditie” que beneficia de períodos de retoma / crescimento económico nos mercados globais.

Em função da boa evolução de longo prazo das acções da empresa, da ausência de volatilidade significativa mesmo em época de especulação sobre os activos financeiros e dívidas soberanas e as projecções para a evolução ascendente dos preços do crude, são todos factores favoráveis a uma posição compradora dos títulos da Galp, S.A.

Análise fundamental

A análise financeira à evolução dos indicadores de desempenho e situação financeira, normalmente a mais utilizada pelos investidores de longo prazo, indica uma base de sustentação para um eventual investimento. Neste sentido, será útil ao investidor analisar os relatórios & contas anuais das empresas e, dependendo do respectivo perfil de risco, decidir sobre esses resultados.

Na Galp Energia, S.A., o volume de negócios sofreu alterações algo significativas, com destaque para o ano de 2008 e o ano de 2009 onde se verificaram as principais evoluções dos últimos 5 anos. Neste sentido, verifica-se o seguinte:


O volume de vendas cresceu 23% entre 2006 e 2008, tendo sofrido uma queda de 20% em 2009. Nota mais importante, todavia, para o aspecto relacional entre o nível de facturação e a capacidade marginal desta sobre os custos de comercialização e produção. Claramente na análise, constatamos que apesar do crescimento de 20% em 2008, a margem comercial teve um decréscimo de 7%. A empresa teve uma forte quebra de eficiência neste ano, sendo talvez este o factor mais preocupante na previsão de fluxos futuros.

O segundo factor para mim mais importante e elucidativo da capacidade de absorção de valor accionista e de avaliação da tendência evolutiva dos níveis de investimento consiste no peso dos encargos financeiros na margem líquida. Neste indicador, verificamos que a empresa estava numa posição bastante aceitável até Dezembro de 2007. Daí para cá, verificamos um crescimento de 7% para 38% em 2008, um agravamento significativo e prejudicial na óptica do investidor de curto prazo. Os 38% foram reduzidos para 19% em 2009. Pessoalmente, gosto que este indicador seja inferior a 15% mas poderemos destacar positivamente a visão de geração de fluxos e resultados a médio / longo prazo decorrentes desta óptica presente de investimento.

No que toca à estrutura de capital, destaco os principais indicadores de análise de situação e viabilidade de uma empresa: a solvabilidade e a rendibilidade de capitais. O gráfico da Galp, S.A. apresenta a seguinte evolução:


A rendibilidade do capital próprio vem numa tendência negativa desde 2006, tendo invertido tendência agora em 2009, corroborando com a minha ideia de que a Galp, S.A. será uma das principais beneficiadas pela retoma económica e financeira dos próximos anos e, consequentemente, pelo aumento dos preços do petróleo. Apesar da solvabilidade em forte queda nos últimos anos, provocada pelo aumento do passivo para investimentos na refinação e nova extracção de petróleos e componentes noutros países, não sou da opinião que tal facto prejudique as perspectivas económicas da empresa para os próximos anos.

Declaração de interesse: não tenho qualquer exposição a títulos da empresa em análise.


Jorge Manuel Honório, Gestor financeiro

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